terça-feira, 13 de maio de 2008

Avaliação? Que avaliação? Apontamentos para uma troca de ideias – 2.

Dando continuidade ao prometido, começarei por fundamentar a proposição 5 e, posteriormente, a proposição 4, porque foram, até agora, as duas proposições questionadas; a primeira, pela Paula Rodrigues e, a segunda, pelo Pedro Branco.

Proposição 5 : O modelo de avaliação deve ser misto, deve ter uma componente interna e uma componente externa (há a tese contrária, a expressa, por exemplo, no actual modelo de avaliação defendido pela ministra, que tem apenas uma componente interna).

Fundamentação:
A avaliação de desempenho que o ministério gizou assenta exclusivamente num processo de avaliação interna, isto é, uma avaliação feita unicamente pelos pares. Com a excepção do recurso aos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais para efeitos de avaliação dos professores, não existe qualquer outro elemento externo à escola que intervenha no processo de avaliação (não incluo, aqui, naturalmente, a avaliação que é feita aos avaliadores pela inspecção de ensino).
Defendo que o modelo misto, aquele que combina avaliação interna com avaliação externa, é o mais adequado. Em particular, no que diz respeito à observação de aulas, a avaliação deve ser externa.
A literatura científica sobre esta matéria revela vários aspectos negativos provenientes de uma avaliação interna. Alguns desses aspectos são:
1.º As rivalidades e a concorrência entre colegas são circunstâncias fortemente propiciadoras a um objectivo condicionamento quer da imparcialidade do avaliador quer do comportamento do avaliado. Isto em abstracto. Mas se descermos ao concreto, ao modelo de avaliação criado pela ministra da Educação o problema ainda é mais grave. Vejamos duas situações, entre outras, que este modelo permite:
a) Sempre que um professor não titular for nomeado para assumir as funções de avaliador, no caso de não existir nenhum professor titular no departamento, isso significa que esse professor vai avaliar os colegas com quem directamente compete para ascender, no futuro, a professor titular. Por exemplo, sabe que se atribuir a classificação de excelente ou muito bom está a contribuir para que esses colegas possam passar-lhe à frente e venham a ocupar a vaga de professor titular que ele também pretendia.
b) Sempre que professores no topo da carreira forem avaliados por colegas que estão, na hierarquia profissional, em posição inferior, quer porque têm menor experiência quer porque têm currículo inferior, isso significa que haverá falta de autoridade e de credibilidade profissionais do avaliador perante o avaliado.

2.º A situação pouco confortável em que os pares ficam colocados, quando sabem que a sua avaliação vai determinar a progressão na carreira de colegas com os quais podem ter relações de grande afinidade ou, pelo contrário, de grande antagonismo.

3.º A ausência, na maior parte dos pares, de preparação científica e técnica (que não se adquire em acções de formação de 16 ou de 25 horas...) no domínio da avaliação de desempenho dos professores, o que levanta ponderosas dúvidas sobre a validade e a fiabilidade da avaliação realizada.

(continua a fundamentação da proposição 5 – amanhã, ou depois...)