Um texto que vale a pena ser lido e discutido.
«O entendimento recente entre o Ministério da Educação e os sindicatos do sector (formalizado a 17.04.2008), em si, não merece comentários de maior. O que preocupa é o facto de, desde que a equipa ministerial dirigida por Maria de Lurdes Rodrigues tomou posse em Março de 2005, as questões laborais do corpo docente – entre elas temas como a assiduidade, a progressão na carreira ou a avaliação dos professores – terem assumido papel central na orientação das políticas educativas. Não se tratando de matérias irrelevantes, é secundário saber se os professores portugueses ganham bem ou mal, se são ou não bem avaliados, se trabalham ou não mais horas na escola por semana do que os outros docentes europeus do ensino não superior. A paranóia nacional reside no facto do sistema ser movido por uma espécie de demência colectiva que sistematicamente sobrevaloriza o acessório e ignora as questões de fundo. É por isso que no ensino temos sido incapazes de encetar transformações profundas.
Para que se saiba, os dois maiores problemas do sector que se arrastam há mais de uma década são a indisciplina e o facilitismo. Sobre eles paira no discurso dos responsáveis (ministeriais, sindicais, gurus ideológico-pedagógicos e classe política em geral) uma tendência esquizofrénica, uma quase negação do real que se vai tornando patológica. E quando a discussão desses problemas emerge, no geral manifesta-se de modo inconsequente ou surge arrastada por questões secundárias que o sistema erradamente transforma em essenciais. É muito difícil provar que as questões socioprofissionais dos professores estão no âmago das fragilidades do sistema de ensino em Portugal. Porém, a experiência de sala de aula prova à saciedade que esse era talvez o último aspecto que deveria preocupar quem não fosse pouco competente ou muito cínico na abordagem das questões educativas.
Será que não se percebe há décadas que a má qualidade das aprendizagens a Matemática, Português, História, Ciências, etc., etc., etc., tem a ver com a indisciplina em sala de aula? Será que não se percebe há muito tempo que um número máximo de quase três dezenas de alunos por turma é um absurdo?
Será que a sociedade portuguesa não tem de ser confrontada com uma discussão sem paninhos quentes sobre o papel estratégico dos exames nacionais em final de ciclo (1º, 2º e 3º) a um número alargado de disciplinas? Será que nos temos de conformar com o contributo para o facilitismo que é a classificação dos resultados escolares com base nos níveis de 1 a 5? Será que temos que aceitar os absurdos curriculares que sobrecarregam os horários dos alunos, consomem parcelas significativas do orçamento para a educação que saem dos impostos pagos por todos nós e que degradam a qualidade do trabalho nas escolas, como a «Área de Projecto», a «Formação Cívica» ou o «Estudo Acompanhado» que fazem parelha com horas avulsas distribuídas em excesso por determinadas disciplinas do secundário? Será que nos temos de conformar com a paranóia que nas últimas décadas hipervaloriza o Português e a Matemática e desvaloriza em excesso disciplinas como a História, as Ciências, a Geografia, a Química e a Física, para já não falar no caso da Filosofia, por parte de quem nos convence da sua pretensa visão integrada da educação? Será que temos de assistir a este esvaziar quase louco do Conhecimento (com «cê» grande)?»
Texto enviado por Paula Rodrigues
«O entendimento recente entre o Ministério da Educação e os sindicatos do sector (formalizado a 17.04.2008), em si, não merece comentários de maior. O que preocupa é o facto de, desde que a equipa ministerial dirigida por Maria de Lurdes Rodrigues tomou posse em Março de 2005, as questões laborais do corpo docente – entre elas temas como a assiduidade, a progressão na carreira ou a avaliação dos professores – terem assumido papel central na orientação das políticas educativas. Não se tratando de matérias irrelevantes, é secundário saber se os professores portugueses ganham bem ou mal, se são ou não bem avaliados, se trabalham ou não mais horas na escola por semana do que os outros docentes europeus do ensino não superior. A paranóia nacional reside no facto do sistema ser movido por uma espécie de demência colectiva que sistematicamente sobrevaloriza o acessório e ignora as questões de fundo. É por isso que no ensino temos sido incapazes de encetar transformações profundas.
Para que se saiba, os dois maiores problemas do sector que se arrastam há mais de uma década são a indisciplina e o facilitismo. Sobre eles paira no discurso dos responsáveis (ministeriais, sindicais, gurus ideológico-pedagógicos e classe política em geral) uma tendência esquizofrénica, uma quase negação do real que se vai tornando patológica. E quando a discussão desses problemas emerge, no geral manifesta-se de modo inconsequente ou surge arrastada por questões secundárias que o sistema erradamente transforma em essenciais. É muito difícil provar que as questões socioprofissionais dos professores estão no âmago das fragilidades do sistema de ensino em Portugal. Porém, a experiência de sala de aula prova à saciedade que esse era talvez o último aspecto que deveria preocupar quem não fosse pouco competente ou muito cínico na abordagem das questões educativas.
Será que não se percebe há décadas que a má qualidade das aprendizagens a Matemática, Português, História, Ciências, etc., etc., etc., tem a ver com a indisciplina em sala de aula? Será que não se percebe há muito tempo que um número máximo de quase três dezenas de alunos por turma é um absurdo?
Será que a sociedade portuguesa não tem de ser confrontada com uma discussão sem paninhos quentes sobre o papel estratégico dos exames nacionais em final de ciclo (1º, 2º e 3º) a um número alargado de disciplinas? Será que nos temos de conformar com o contributo para o facilitismo que é a classificação dos resultados escolares com base nos níveis de 1 a 5? Será que temos que aceitar os absurdos curriculares que sobrecarregam os horários dos alunos, consomem parcelas significativas do orçamento para a educação que saem dos impostos pagos por todos nós e que degradam a qualidade do trabalho nas escolas, como a «Área de Projecto», a «Formação Cívica» ou o «Estudo Acompanhado» que fazem parelha com horas avulsas distribuídas em excesso por determinadas disciplinas do secundário? Será que nos temos de conformar com a paranóia que nas últimas décadas hipervaloriza o Português e a Matemática e desvaloriza em excesso disciplinas como a História, as Ciências, a Geografia, a Química e a Física, para já não falar no caso da Filosofia, por parte de quem nos convence da sua pretensa visão integrada da educação? Será que temos de assistir a este esvaziar quase louco do Conhecimento (com «cê» grande)?»
Gabriel Mithá Ribeiro
(amanhã, conclui-se a apresentação deste artigo)
(amanhã, conclui-se a apresentação deste artigo)
Texto enviado por Paula Rodrigues