«Amelia era uma jovem muito culta, mas, dado ser americana, também era muito prática e ninguém ficaria surpreendido por uma parte da administração da quinta já lhe estar confiada. Nestes circunstâncias, era difícil considerar-se invulgar o facto de ela estar familiarizada com a arte das cartas ou com a diplomacia, embora me levasse aproximadamente um dia a compreender que, com todo o seu entusiasmo cristão, ela havia seriamente subestimado a quantidade de trabalho exigida a alguém que é secrétaire. Creio que considerava o serviço semelhante ao que poderia prestar a uma tia idosa — com os seus olhos outrora azuis agora enevoados, os nós dos dedos encordoados e rígidos — que desejasse escrever à irmã sobre o último sermão dominical, uma boa acção que, emocionado, a tinha visto praticar.
Mas sentia-me ridiculamente feliz por fazer um ditado em que exibia os dotes da minha mente, como esses pássaros-cetim que constroem um caramanchão para atraírem a companheira, por elaborar, como só um francês sabe fazer, as frases mais encantadoras e artísticas, murmurando linhas de raciocínio que já deslumbram no momento em que se organizam. Isto pode parecer um tanto grandiloquente ou louco, mas não é verdade que a ouvia suspirar?»
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.