— Não é bom para ti fechares-te dessa maneira — disse ela.
— Mas sinto-me bastante feliz.
— Estás muito triste, meu querido, como acabaste de confessar.
— Isto vai passar — respondi, perguntando-me se esse milagre não se teria já verificado.
— Não tens ninguém à tua altura com quem falar.
— Tenho-te a ti.
Em resposta, surpreendeu-me, como tinha feito noutras ocasiões, roçando, por breves instantes e maliciosamente, como que por acidente, aquele elemento da minha anatomia que provava que eu não era seu igual. E, depois de o ter feito, aquele diabrete começou a caminhar monte acima. Segui-a um tanto confuso, ciente de que tinha de corrigir o meu capítulo sobre os usos dos Americanos.
— És um demónio — disse, beijando-a.
— Posso tornar-me um anjo, aos olhos de Deus.
E assim prosseguiu a nossa conversa sobre o assunto do matrimónio, sempre presente e nunca completamente explícito. Porém, quando ela disse anjo imaginei, como era sua intenção, Amelia Godfroy vestida de branco diante de um altar.
Peter Carey, Parrot e Olivier na América, Gradiva.