«"Provavelmente é verdade, como defende Hobsbswm, que o próprio sucesso da esquerda acabou com o enfraquecimento do seu programa, no sentido em que muitos dos objectivos pelos quais começou a bater-se há um século foram alcançados, pelo menos na Europa: da democracia ao sufrágio universal, à extensão da protecção dos sujeitos socialmente mais fracos. [...] Por um lado, esmorecia cada vez mais o fascínio dos modelos acabados por sociedade alternativas à capitalista [...]. Por outro lado, em muitos países europeus o limite de capacidade de reforma das sociedades existentes parecia atingido e, de qualquer modo, só restava à esquerda 'realista' o objectivo de conservar o que tinha sido obtido" [Agosti 2000, X-XI]."
Fim da história? Ou a própria história, como assinala Eco, parece enrolar-se para trás? Andamos a passo de caranguejo [Eco 2006].
Conservar o que foi conquistado, amainar as velas, aceitar o inevitável. Se é isto o que resta à esquerda, é bom recordar também os factos que estão a verificar-se neste difícl início do novo milénio.
Por um lado, o que foi conquistado não está assegurado de uma vez por todas, pelo contrário, é continuamente posto em causa (do voto livre aos direitos de cidadania e de expressão, ao direito à saúde e à educação, etc.); por outro lado, como recordava, há já dez anos (e ainda não tinha rebentado a crise planetária e 2008), o já citado Lukes:
"[...] tal como se restringiu o horizonte político da esquerda [...], ao mesmo tempo desvantagens e privações aumentaram em diversas dimensões no interior dos países desenvolvidos, nos países em vias de desenvolvimento e entre os primeiros e os segundos. Há 20 milhões de desempregados só na Euopa Ocidental, sem qualquer perspectiva de retorno ao pleno emprego, enquanto uma crescente pobreza e marginalização e a exclusão social de categorias de pessoas cada vez mais amplas parecem ser inseparáveis das sociedades liberais e capitalistas, não obstante os crescentes custos das políticas de welfare. Enquanto se contraem os recursos da esquerda, aumentam as exigências à sua inventiva programática e à sua imaginação" [Lukes 1997, 314].»
Franco Cazzola, O Que Resta da Esquerda, Cavalo de Ferro