sábado, 22 de janeiro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

O médico da imortalidade está na moda

«Actualmente há uma grande variedade de terapias de imortalidade, muitas delas com modelos teóricos razoavelmente válidos  e outras com investigações prometedoras em curso.
Vejamos o exemplo da terapia de substituição de células estaminais, uma forma de medicina regenerativa que substitui por componentes do corpo gerados a partir de células indiferenciadas (células estaminais) os componentes defeituosos ou mortos num corpo. A grande maioria das células tem uma função específica — por exemplo, células cutâneas ou células cerebrais —, por isso quando iniciam a sua função específica (diferenciação) não podem ser adaptadas para outra função; porém, como as células estaminais são indiferenciadas, podem transformar-se em qualquer tipo de célula no corpo humano depois de serem "programadas" com as instruções certas.
A terapia de células estaminais já reivindicou sucesso na inserção de células produtoras de sangue em pacientes com problemas hematológicos e muitas outras terapias de substituição de células estaminais começam a ser utilizadas, como substituições de medula espinhal e de partes dos cérebro. Está em estudo uma célula "todo-poderosa", uma célula que poderia ser introduzida num corpo e reconstruiria qualquer componente danificado ou morto desse corpo consoante as necessidades, no momento certo.
Para se ter uma ideia de como isto poderia resultar em imortalidade, imagine um carro de 1956 que ao longo do tempo viu todas as suas peças serem substituídas de tal forma que agora está exactamente como novo, mas não possui nenhum componente original. Agora imagine que é um carro. [...]
Isto leva-nos à terapia da telomerase, uma estratégia de imortalidade que corrige o desejo de morte impresso no nosso ADN. Os cientistas comparam os telómeros às pontas de plástico dos atacadores de sapatos, na medida em que impedem as extremidades dos cromossomas de se desfazerem e se enfiarem umas nas outras, um cenário que poderia baralhar a informação genética de um organismo e provocar cancro e/ou a morte. Mas esta função tem uma grande desvantagem: sempre que uma célula se divide, os telómeros ficam mais curtos e quando encurtam de mais a célula morre. É a bomba-relógio a fazer tiquetaque dentro de todos os cromossomas. Isto levou os crânios da empresa de engenharia genética Geron a tentar descobrir como colocar mais telos nos nossos telómeros.
Em 1997, os funcionários da Geron descobriram um gene que codifica uma proteína chamada telomerase, que atrasa o "relógio do envelhecimento" nas extremidades dos cromossomas. Até agora, só tiveram sucesso em placas de Petri, onde a oportunidade de vivermos uma vida rica e variada nos parece extremamente limitada. Os tipos da Geron calculam que no futuro a terapia de telomerase travará indefinidamente o processo de envelhecimento, mas a maioria dos cientistas não pensa que possa inverter o envelhecimento. 
Não se esqueça disto quando tiver 75 anos, como o Malcolm:
Malcom andava a passear quando viu uma rã na sarjeta e apanhou um susto enorme quando, de repente, ouviu a rã dizer-lhe:
— Velhote, se me beijares transformar-me-ei numa linda princesa. Serei tua para sempre e poderemos fazer amor louco e ardente todas as noites.
Malcom baixou-se, pôs a rã no bolso e continuou a andar.
— Ó! — disse a rã. — Não deves ter ouvido o que eu disse. Eu disse que se me beijares me transformarei numa linda princesa e poderemos fazer amor louco e ardente todas as noites.
— Eu ouvi-te bem — replicou Malcom —, mas na minha idade prefiro ter uma rã que fala.»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.211-213 (adaptado).