sábado, 8 de janeiro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

Problemas da imortalidade

Nós esperamos sinceramente que este problema da morte esteja prestes a tornar-se uma coisa do passado. Relativamente a esta questão, temos a mesma opinião de Woody Allen, que disse: " Não estou nada interessado em obter a imortalidade através do meu trabalho. Prefiro simplesmente não morrer."
Imagine-se um mundo em que não houvesse necessidade de reencarnação nem de esvoaçar pelo céu com asas transparentes. Podíamos deitar fora todos os catálogos de locais de destino no outro mundo, após a vida na Terra. Em vez disso, continuaríamos a ser eternamente seres humanos, aqui em Bayonne, Nova Jérsia. [...]
Até há muito pouco tempo, a imortalidade biológica só existia nas fantasias de infância e nos romances de ficção científica. No entanto, descobertas recentes no campo da biologia celular e da inteligência artificial fizeram com que cientistas sérios com doutoramentos se autodenominassem imortalistas biológicos, investigadores que prevêem a possibilidade de descobertas genéticas, como clonagem e terapia de células estaminais, que eliminarão todas as causas não acidentais de morte. E também há imortalistas de preservação criobiológica que apostam em congelar-nos enquanto esperamos pelas descobertas. E temos também os ciber-imortalistas, que vêem a digitalização do sistema nervoso humano como a chave para a imortalidade. Essas pessoas concebem a possibilidade — não, a probabilidade — de um dia, num futuro não muito distante, eles e os seus amigos poderem proporcionar-nos a vida eterna mais ou menos nas condições em que  existimos agora. A mente hesita, especialmente se for a mente de um filósofo.
Para começo de conversa, debatemo-nos com um conjunto inteiramente novo de problemas éticos como, por exemplo: há espaço para todos esses imortais neste planeta, quanto mais em Nova Jérsia? Uma esperança de vida infinita é natural? Sagrada? Desejável? Acessível? Enfadonha? Quais são as suas implicações para os laços a longo prazo? Para os relacionamentos a longo prazo? Se temos todo o tempo do mundo, devemos esperar alguns milénios antes de nos casarmos?
Esta última pergunta levanta outro problema.
Sean e Bridget namoravam há 40 anoss. Um dia, após um passeio pelas encostas verdes de Kerry, Sean voltou-se para Bridget e disse:
— Talvez fosse boa ideia casarmo-nos, não achas?
— Com a nossa idade, quem é que nos quereria? — respondeu Bridget.
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.203-205 (adaptado).