sábado, 15 de janeiro de 2011

Ao sábado: momento quase filosófico

«Enquanto analisamos as pesquisas que os cientistas estão a efectuar actualmente em universidades importantes sobre a imortalidade de clones, a crio-imortalidade e a ciber-imortalidade, somos confrontados com algumas questões metafísicas e epistemológicas. Questões do género: Continuo a ser eu se for apenas um cérebro descongelado? Se for completamente feito de células estaminais regeneradas? Se existir apenas num microchip? Quem é o verdadeiro eu se existirem quatro eus? Continuo a precisar de um preservativo para fazer sexo virtual?
Mas antes de aprofundarmos a possibilidades de uma vida sem jamais morrer, vamos deter-nos um momento para ponderar qual é a extensão da eternidade. Voltamos novamente ao professor [Woody] Allen para um esclarecimento: "A eternidade é muito longa, principalmente perto do fim." [...]
Do ponto de vista da medicina, a ideia de prevenir a morte é basicamente o que os médicos já tentam fazer, por isso prevenir a morte para sempre mais não é que uma extensão do seu protocolo hipocrático. É raro o médico que nos senta e nos diz: "Conseguimos curar a sua aterosclerose, por isso tenho o prazer de lhe dizer que morrerá de outra coisa qualquer." Pelo contrário, lemos constantemente notícias sobre o objectivo glorioso da medicina de acabar com as maiores causas de morte — doença cardíaca, AVC e cancro —,  lugares na lista da mortalidade. Assim, os médicos comportam-se como se fossem imortalistas, como se pudessem curar todas as maleitas que teremos.

Viver muito tempo parece sempre mais divertido do que viver pouco tempo, acima de tudo porque é mais — mais vida, um dos nossos passatempos preferidos.
Todavia, quando os yuppies começam a atingir a marca dos três dígitos, viver muito tempo adquire um valor acrescentado: é uma proeza, como arranjar um bom emprego, vender os direitos cinematográficos de um romance ou seduzir a Angelina Jolie. Como Michael Kinsley observa no seu ensaio «A Minha É mais Comprida Que a Tua», na New Yorker, sobre as suas percepções desde que lhe foi diagnosticada a doença de Parkinson, a longevidade competitiva é a última grande aposta dos baby boomers envelhecidos. escreve Kinsley: 
"De todos os presentes que a vida e a sorte podem conceder — dinheiro, beleza, amor, poder —, a longevidade é aquele de que as pessoas parecem menos relutantes em gabar-se. A verdade é que a reivindicam normalmente como uma espécie de virtude, como se viver até aos 90 fosse antes de mais o resultado de trabalho árduo ou orações em vez de bons genes e de nunca ter sido atropelado por um camião."
Claro que há um paradoxo inerente a esta competição: o último homem ou mulher a chegar à Grande Meta não terá ninguém da sua faixa etária para vencer.
O comediante Steven Wright resumiu o estilo de vida dos boomers com a seguinte observação: "Tenho pena das pessoas que não bebem nem consomem drogas. Porque um dia vão estar numa cama de hospital, a morrer, e não saberão porquê."»
Thomas Cathcart, Daniel Klein, Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso, pp.205-208 (adaptado).