quinta-feira, 30 de abril de 2009

O Ministério da Educação incentiva alunos à delação

Vários meses depois de Maria de Lurdes Rodrigues ter sido alvo de uma chuva de ovos, um inspector da Inspecção Geral de Educação foi à Escola Secundária de Fafe e levou uma aluna, de 16 anos, para uma sala, que não conhecia, para ser interrogada sobre esse acontecimento durante cerca de uma hora, segundo notícia o Público, na sua edição de ontem. O pai da aluna, e presidente da associação de pais, afirma que a sua filha «foi incitada a acusar e denunciar pessoas, nomeadamente os seus professores, pelos quais se espera que tenha respeito como figuras de autoridade.»
A ser verdade, este é mais um exemplo da medíocre e perigosa mentalidade que governa o nosso país. É a mentalidade inquisitorial, é a mentalidade da ameaça mais ou menos velada, é a mentalidade da intimidação. Este Ministério da Educação, pelo exemplo da sua acção, deseduca, malforma. Estimular um aluno a ser delator é grave, é gravíssimo. E não é apenas ser delator, é ser delator de alguém com quem se tem uma relação especial, de proximidade, de afecto e, simultaneamente, de autoridade, como salienta, e bem, o pai da aluna.
O denunciante é, deste modo, apresentado aos jovens como o paradigma ético, como a referência moral. É isto que o Ministério da Educação ensina: acusar o amigo, acusar o professor é correcto, como será correcto acusar o pai ou a mãe. O Ministério da Educação não olha a meios para atingir os seus fins, e isto é, exactamente, outra coisa que ele ensina: os fins justificam os meios.
Já tinha, enquanto professor, a pior opinião possível acerca da qualidade técnica e política deste Ministério da Educação. Agora, enquanto pai, tenho o Ministério da Educação, pelos valores que emana e pelos comportamentos que induz, como uma instituição perniciosa para a educação do meu filho. Agora, enquanto pai, vejo-me na obrigação de alertar permanentemente o meu filho para não seguir os maus exemplos comportamentais do Ministério - do Ministério que, precisamente, deveria ter a incumbência de o co-ensinar, entre outras coisas, a ser um cidadão responsável com elevados padrões éticos. Enquanto pai, tenho, neste momento, o Ministério da Educação como uma má companhia, como uma nefasta influência para o meu filho.
É muito grave chegar-se a este ponto.