«Os mercados, por si só, mesmo quando eficientes e estáveis, costumam conduzir a níveis altos de desigualdade, a resultados que são amplamente vistos como injustos. Pesquisas recentes sobre economia e psicologia mostraram a importância que os indivíduos dão à justiça. Mais do que tudo, a perceção de que o sistema político-económico foi injusto é o que motiva as manifestações em todo o mundo. Na Tunísia, no Egipto e noutras partes do Médio Oriente, a questão não era meramente a dificuldade em encontrar trabalho, mas sim que os empregos disponíveis eram ocupados por quem tinha ligações políticas.
Nos Estados Unidos e na Europa, as coisas pareciam mais justas, mas só de um ponto de vista superficial. Os que se formavam nas melhores escolas com as melhores notas tinham melhores hipóteses de arranjar um bom emprego. Mas o sistema estava viciado porque os pais endinheirados enviavam os filhos para os melhores infantários e para as melhores escolas primárias e secundárias, e esses estudantes tinham muito mais hipóteses de entrar nas universidades das elites.
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A crise financeira desencadeou uma nova perceção de que o nosso sistema económico não era só ineficiente e instável, como também era fundamentalmente injusto. [...] O que aconteceu no meio da crise revelou que não era o contributo para a sociedade o que determinava a remuneração de alguém, mas sim outra coisa: os banqueiros recebiam prémios enormes, ainda que o seu contributo para a sociedade — e mesmo para as empresas — tivesse sido negativo. A riqueza dada às elites e aos banqueiros parecia surgir da sua capacidade e da sua vontade de tirarem vantagem de outros.»
Joseph E. Stiglitz, O Preço da Desigualdade, Bertand Editora.