domingo, 8 de dezembro de 2013

A prova que faltava?

E vai-se consumindo o tempo, gastando a energia, desperdiçando a concentração, perdendo a paciência com a estupidez institucionalizada, com os modismos irresponsáveis e com as incompetências instaladas  no Ministério da Educação. É isto que tem sucedido aos professores nos últimos oito anos. Desde há uns oito longos anos que fanatismos irresponsáveis tomaram conta do Ministério da Educação e apostaram em desviar a atenção dos docentes da sua verdadeira função: ensinar.
No decurso destes anos, os fanáticos políticos e técnicos do Ministério da Educação, em lugar de se preocuparem com a qualidade dos programas disciplinares, com a qualidade da formação contínua, a nível científico e a nível pedagógico (por esta ordem), com a responsabilização e a valorização da função docente; preferiram inundar os professores com procedimentos e tarefas burocráticas, preferiram fomentar a divisão e a instabilidade profissionais, preferiram impor, da forma mais incompetente que se pode imaginar, uma (pseudo) avaliação do desempenho, que constituiu e constitui uma farsa única,  preferiram, acrítica e grosseiramente, importar das empresas um modelo de gestão que ideologicamente corresponde a um regresso a paradigmas arcaicos de liderança e que psicologicamente derivará de desequilíbrios e de carências de figuras tutelares, preferiram transformar as salas de aula em armazéns de alunos; preferiram..., etc., etc.

Surgiu agora a prova que faltava sobre a demência política dos actuais e anteriores responsáveis pelo nossa Educação. Pensado por L. Rodrigues, do governo de Sócrates, e executado por Nuno Crato, do governo de Passos Coelho, o exame, a que se pretende submeter os professores contratados, tem algumas virtudes: mostra os laços que efectivamente unem Rodrigues a Crato, e Sócrates a Coelho — por muito que isso aparentemente desagrade a alguns socratistas; mostra a forma escurril como Crato faz política e a FNE faz sindicalismo; e confirma a enorme desorientação de que há muito padece o ministro da Educação.
Aceitar o critério da experiência para isentar os professores de fazer a prova é um critério justo — no mínimo, porque essa experiência, segundo as regras do sistema em que estamos, já foi validada por um modelo de avaliação do desempenho docente, que Crato não se cansa de considerar como possuindo rigor e fiabilidade. Mas se a experiência profissional destes professores já foi avaliada rigorosa e fiavelmente como boa, muito boa ou até excelente, com que  justificação se faz tábua rasa dessa avaliação e se pretende submetê-los a uma avaliação suplementar? E com que fundamento se pretende isentar uns e obrigar outros? A experiência é um bom critério para ser aplicada a uns e não é um bom critério para ser aplicada a outros? Que razões científicas ou pedagógicas permitem diferenciar um professor com 4 anos de experiência profissional de um outro que tem apenas mais um ano ou mais uns meses dessa experiência (em alguns casos, apenas mais dias)? Como não existem razões científicas nem pedagógicas para essa diferenciação, nem aqui nem em lado algum, o critério para isentar uns e obrigar outros à realização da prova é o critério da arbitrariedade: são 5 anos, porque sim (precisamente o mesmo critério que L. Rodrigues utilizou para definir que só contavam os 7 últimos anos da carreira para se ascender a professor titular: porque sim). Poderiam ter sido 3, 4,  6 ou também 7 anos, mas foram 5, porque, naquele dia, a Crato o 5 afigurou-se-lhe empático.
A desorientação e o fanatismo de Crato levam-no, assim, a ter de confirmar a incompetência do seu próprio modelo de avaliação do desempenho docente e a confirmar que não tem rumo, que não sabe o que pretende e que em momentos de atrapalhação não hesita em usar a arbitrariedade.
Era esta a prova que faltava para Crato ser demitido?