Particularmente em tempos de crise, alguns rituais enfrentam certos problemas de sentido. É o caso do ritualizado voto de «Bom Ano Novo». No contexto da crise em que estamos metidos — cuja duração recolhe a desgraçada unanimidade de nos atirar a esperança da melhoria de vida só para meados dos próximos anos 20, se não houver uma ruptura com a política que tem sido seguida — formular o desejo de «Bom Ano Novo» só terá razão de ser se a formulação for acompanhada de um rasgado sorriso de ironia ou de uma enorme inconsciência. De outro modo não faz sentido.
A não ser que os votos de «Bom Ano Novo» signifiquem votos de que em 2014 o governo de Passos Coelho caia, de que a Tróica saia e de que uma política centrada na defesa do Estado Social e no combate às desigualdades seja iniciada. Se assim for, a formulação de tais votos será certamente mais virtuosa, ainda que, mesmo deste modo, subsista um problema: os governos não caem com votos formulados à cadência das badaladas. Para o bem ou para o mal, os governos só caem se forem forçados a cair, e para que isso aconteça é necessário que cada um de nós, nos momentos decisivos, não se furte à sua parte de responsabilidade na oposição política, sindical e cívica à governação que temos tido.
Caso contrário, nem o governo cai nem o ano de 2014 será melhor do que este que agora termina.