«Três temas ressoaram com força pelo mundo: que os mercados não funcionavam como deviam, porque não eram, obviamente, nem eficientes nem estáveis; que o sistema político corrigira as falhas do mercado; e que o sistema político e o sistema económico eram fundamentalmente injustos. [...] Os três temas estão intimamente relacionados: a desigualdade é causa e consequência do falhanço do sistema político e contribui para a instabilidade do nosso sistema económico, que por sua vez contribui para uma maior desigualdade.
O falhanço dos mercados
Os mercados não têm claramente funcionado como os seus defensores clamam. É suposto que os mercados sejam estáveis, mas a crise financeira global mostrou que podem ser bastante instáveis, com consequências devastadoras. Os banqueiros apostaram que, sem ajuda governamental, tanto os bancos como toda a economia cairiam. Mas se olharmos de perto para o sistema, apercebemo-nos de que nada disso aconteceu por acaso; os banqueiros tinham incentivos para se comportarem assim.
Supostamente, a virtude do mercado é a sua eficiência. Mas é óbvio que o mercado não é eficiente. A mais básica lei económica — necessária para que a economia seja eficiente — é a da procura ser igual à oferta. Mas vivemos num mundo onde existem enormes necessidades não atendidas — investimentos para tirar os pobres da pobreza, para promover o desenvolvimento de países africanos menos desenvolvidos, entre outros países do mundo, para melhorar a economia global de modo a enfrentar os desafios do aquecimento global. Ao mesmo tempo, temos vastos recursos subutilizados — trabalhadores e maquinaria que estão parados ou não produzem de acordo com o seu potencial. O desemprego — a incapacidade do mercado de criar emprego para tantos cidadãos — é o maior falhanço do mercado, a maior fonte de ineficiência, e uma grande causa de desigualdade.»
Joseph E. Stiglitz, O Preço da Desigualdade, Bertrand Editora.