Três notas e um pressentimento sobre a colossal demissão do ministro das Finanças.
Notas:
1. O governo perdeu o seu esteio. A contagem decrescente para o dia da demissão de Passos Coelho acelerou. É uma boa notícia para o país.
2. Segundo os comentantes das televisões, os professores deram um contributo decisivo para a demissão de Vítor Gaspar. Enquanto docente, fico grato pela generosidade do elogio.
3. A carta de demissão do ministro é um documento politicamente extraordinário. No mínimo, por quatro razões:
i) é a primeira vez que um ministro tem a humildade de afirmar que se demite porque cometeu falhas graves e que por esse motivo perdeu credibilidade, não gera confiança e é factor de instabilidade dentro do governo;
ii) segundo se sabe, foi o próprio ministro que tornou pública a carta de demissão, o que reforça a ideia de humildade mas também de coragem para assumir publicamente a responsabilidade que lhe cabe;
iii) simultaneamente, o conteúdo da carta revela, de modo sibilino, que não existe nenhuma liderança nem a mínima coesão no governo;
iv) o que Vítor Gaspar dá com uma mão — manifestação de humildade e capacidade de assumir as consequências dos seus erros — retira com a outra — atraiçoa o chefe, sem dó e sem piedade. É esta a qualidade da elite política que temos.
Pressentimento:
Agora que o governo já é quase cadáver, os socratistas do PS vão perder o pouco pudor que lhes restava e vão tentar tomar conta de todas as primeiras filas e de todos os palcos. Este é outro sinal da qualidade da elite política que temos.