Sento-me na relva e bebo
Com os meus amigos ausentes. Eis a mesa
O reflexo da lua
No pátio da noite ainda limpa.
«Mais vale só do que bem acompanhado»,
Digo-me e ergo a taça esvazio a taça não há outro
Movimento mais puro mais cerimonioso
Que desfaça tão bem a terra e o céu
Num deserto redondo e habitado
Pelo puro silêncio. As folhas do outono
Sentam-se comigo a olhar a pensar
No grão de areia que tomo na mão
Na sílaba de pedra que foi incandescente
Nos campos de sílex que separam animais e coisas
Sob a desolada coroa solar. As aves que regressam
Vêem comigo a rosa que adoece o fruto que sedimenta
A sua alquimia interior. Assim eu tivesse
O coração branco
As mãos vazias
Em lugar de tanta palavra tanto parasita
Que não me abandona.
Casimiro de Brito