Quando as agências de rating classificaram a nossa dívida soberana de lixo, deveriam tê-lo feito, não em relação à dívida mas em relação às elites que, nas últimas décadas, têm dominado política e economicamente o país. As nossas elites são lixo genuíno.
O comportamento público que alguns dos protagonistas destas elites têm tido nos últimos dias e horas fez do inimaginável realidade. O léxico português é pobre para classificar apropriadamente os seus comportamentos. Num dia, demite-se um ministro, que, de modo inovador, torna pública a carta da demissão. Nela, faz uma aparente auto-crítica e concretiza uma vingança: diz que o líder não é líder e o governo não é governo. No mesmo dia, o primeiro-ministro nomeia novo ministro das Finanças, no caso, uma ministra. O líder do outro partido da coligação, durante esse dia, não se pronuncia sobre o assunto, nem publicamente nem privadamente, como o poderia e deveria ter feito na reunião do conselho nacional do seu partido. No dia seguinte, a poucas horas da tomada de posse da nova ministra, faz sair um comunicado, dizendo que se demite do governo e que tinha avisado o chefe do executivo da sua discordância quanto àquela nomeação. Diz que a demissão é irrevogável. O presidente da República é avisado quase em cima da cerimónia da tomada de posse. A ministra toma posse. Os secretários de estado também, de entre os quais, um que é membro do partido cujo líder se havia demitido horas antes. Apesar desta demissão ter sido anunciada como irrevogável, o chefe do governo vai à televisão dizer que não só ficou surpreendido com a mesma como anuncia que não a aceita e que quer esclarecimentos.
Não acredito que comportamentos como estes tenham paralelo em mais algum país da Europa. Paulatinamente, as nossa elites estão a dar cabo do país. Não parece que haja mais do que duas hipóteses: ou mudamos radicalmente de protagonistas ou mudamos de país.