Excertos do livro,
Da Corrupção à Crise - Que Fazer?, de Paulo Morais:
«A classe política dirigente, complacente com os corruptos, não hesita em martirizar as vítimas da corrupção. Porque, apesar da corrupção ser crescente, não se tomam quaisquer medidas no sentido de a combater de facto. Aliás, de forma hipócrita, o combate à corrupção tem sido uma promessa de todos os políticos. Um compromisso que nunca passou da teoria à prática. Têm sido muitas as experiências, mas as consequências, essas são nulas.
A primeira experiência neste regime foi a famosa Alta Autoridade Contra a Corrupção. Os resultados da sua acção ainda hoje, passados trinta anos, não se conhecem. Daí para a frente, foi sempre a piorar. Nos últimos anos, então, surgiram [...] organismos inúteis e risíveis.
Um deles, felizmente já extinto, foi a Comissão Parlamentar Eventual de Combate à corrupção, criada na última legislatura de Sócrates. Era constituída por deputados ligados à Banca, à promoção imobiliária e a outros negócios, sectores interessados em tudo menos no combate a essa praga. Foi presidida por Vera Jardim que, na sua qualidade de presidente do Banco Bilbao Vizcaya e duma leasing imobiliária, representava os sectores mais permeáveis à corrupção: a finança e a construção civil; já para não falar do seu vice-presidente, Lobo de Ávila, depois promovido a membro do governo com Passos Coelho, que pertencia aos órgãos sociais das empresas do poderoso Miguel Pais do Amaral. Entre outros... A comissão nem fez comichão; deu um pequeno ar de sua graça e esfumou-se, deixando a corrupção no lugar central que sempre ocupou na política portuguesa.»
Paulo Morais, Da Corrupção à Crise - Que Fazer?, Gradiva.