«Para onde vamos? Directamente contra a parede. Estamos dentro de um bólide sem condutor, sem marcha-atrás e sem travões que vai despedaçar-se contra os limites do planeta. [...]
Ocultamos a questão de saber de onde viemos, que é de uma sociedade de crescimento, ou seja, de uma sociedade fagocitada por uma economia que não possui outra finalidade senão o crescimento pelo crescimento. [...] Denunciar o "frenesim das actividades humanas" ou a embalagem do motor do progresso não pode compensar a ausência da análise da megamáquina tecnoeconómica capitalista e mercantil de que somos provavelmente peças cúmplices, mas não as molas reais. Este sistema assente na desmesura está a conduzir-nos a um impasse. Esta esquizofrenia coloca o teórico perante uma situação paradoxal: tem a sensação de estar a forçar portas abertas e, ao mesmo tempo, a de estar a pregar no deserto. Dizer que o crescimento infinito é incompatível com um mundo finito e que as nossas produções e os nossos consumos não podem ultrapassar a capacidade de regeneração da biosfera são evidências que não dão muito trabalho a partilhar. Porém, são muito mais dificilmente aceites as consequências incontestáveis de que estas mesmas produções e estes consumos devem ser reduzidos (cerca de dois terços no caso da França) e que a lógica do crescimento sistemático em todas as direcções (cujo núcleo é a compulsão e a adição ao crescimento do capital financeiro), bem como o nosso modo de vida, devem, portanto, ser postos em causa.»
Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno, Edições 70.