1. Com uma naturalidade que impressiona e indigna, a mentira e a fraude instalaram-se na prática política de quem nos governa. O verbo governar tornou-se sinónimo dos verbos enganar, mentir, falsear, e o exercício da patranha política é realizado sem indícios de vergonha, remorso ou pudor.
Desde que tomou posse, Passos Coelho tem feito basicamente duas coisas: executar a política que os credores lhe ordenam e, fundamentalmente, mentir aos portugueses. Em nove meses de governação, o seu rol de mentiras tem já uma extensão sem paralelo, na nossa história democrática.
O último caso, ocorrido na semana passada, diz respeito ao corte dos subsídios de Natal e de Férias. Desde Outubro último, o governo repetiu insistentemente, pela voz de vários ministros (sem qualquer desmentido), que esse corte duraria dois anos. Apesar dessas repetidas afirmações, Passos Coelho veio agora dizer, com um impressionante à-vontade, que esse corte permanecerá por três anos e que a sua reposição será realizada gradualmente. Não sei se a maior gravidade está no conteúdo da mentira ou no cinismo de quem a alimentou, proferiu e neste momento a revela. Seja o que for, a conclusão que se retira é a de que estamos envolvidos num imenso esterco político.
Como se não chegasse o comportamento degradante do primeiro-ministro, ainda tivemos de assistir, a propósito do mesmo assunto, a um outro vergonhoso comportamento, desta vez, protagonizado pelo ministro das Finanças. Através de tentativas de humor rasca e ironias torpes, Vítor Gaspar desenvolveu, perante os deputados e o país, um número desonroso, que o desqualificou e que desqualificou o exercício da sua função: procurou fazer chalaça com a mentira sobre o subsídio de Férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas, mentira de que ele é co-autor. E o momento ainda mais aviltante se tornou porque, enquanto Gaspar tentava brincar com o que não devia, o ministro Relvas, a seu lado, gargalhava como um carroceiro.
Seria bom podermos dizer que tudo isto é demasiado mau para poder ser verdade, mas, desgraçadamente para todos nós, é demasiado mau e é demasiado verdadeiro.
Como se não chegasse o comportamento degradante do primeiro-ministro, ainda tivemos de assistir, a propósito do mesmo assunto, a um outro vergonhoso comportamento, desta vez, protagonizado pelo ministro das Finanças. Através de tentativas de humor rasca e ironias torpes, Vítor Gaspar desenvolveu, perante os deputados e o país, um número desonroso, que o desqualificou e que desqualificou o exercício da sua função: procurou fazer chalaça com a mentira sobre o subsídio de Férias e de Natal dos funcionários públicos e pensionistas, mentira de que ele é co-autor. E o momento ainda mais aviltante se tornou porque, enquanto Gaspar tentava brincar com o que não devia, o ministro Relvas, a seu lado, gargalhava como um carroceiro.
Seria bom podermos dizer que tudo isto é demasiado mau para poder ser verdade, mas, desgraçadamente para todos nós, é demasiado mau e é demasiado verdadeiro.
2. Todavia, a semana não terminaria sem uma outra situação que ainda mais envilece a actuação dos governantes que temos. Às escondidas, o governo aprovou a suspensão das reformas antecipadas para o regime geral, até 2014, e secretamente fez publicar essa norma na véspera de um feriado nacional, com a conivência do Presidente da República.
Para os políticos que estão no poder, o exercício da governação tornou-se pois o exercício de fintar os governados. O governo finta, engana, com truques de ilusionismo de baixa qualidade, quem o elegeu. É sem dúvida sui generis esta concepção do acto de governar.
3. Mas também é sui generis o modo embascado como o povo português contempla e permite tudo isto. Um povo que tem sido sistematicamente enganado pelos governantes, que vê o número de desempregados crescer diariamente, que vê os impostos subirem permanentemente, que vê os salários reduzidos drasticamente, que vê a pobreza e a miséria crescerem continuamente e que, perante tudo isto, não reage, não se indigna, não luta, não se revolta faz jus à observação de Miguel de Unamuno: «Portugal é um povo de suicidas».