«Às mudanças de hoje, do início do século XXI, a esquerda deve responder "pensando no porquê" da sua existência ou da sua existência futura. Os meios próprios da democracia liberal já foram plenamente aceites: já não há violência revolucionária, mas existe, se me é permitida a contradição nos termos, "democracia revolucionária".
Mas para quê? Para chegar onde? E por quem? Só depois de se terem verificado as razões de ser da esquerda se porá o problema das políticas (velhas, novas?).
Talvez já não sirvam as políticas que, como recorda Berta, eram típicas da social-democracia europeia, as que tendiam para o "controlo político do mercado de trabalho e da moeda". Ou talvez ainda sejam úteis e, então, seria necessário voltar a colocá-las no centro do debate político e retirá-las do limbo para onde foram expulsas pelo triunfo do pensamento neoliberal.
Úteis? Inúteis? Mas, seguindo a linha de Bloch, devemos perguntar-nos mais uma vez: Com que objectivo? Para quem? Para que "tempo"? Para hoje? Para amanhã? Para que "utopia concreta"?
Volto a recuperar, brevemente, os valores históricos, típicos, de longo prazo, das esquerdas europeias: confiança num desenvolvimento indefinido, primado da política, extinção do capitalismo, superação da democracia burguesa. Ao longo dos anos, estes valores foram progressivamente postos de lado ou totalmente abandonados, mesmo oficialmente. [...] No bem como no mal, pouco resta do que havia na origem. Mas talvez fosse bom retomar alguma coisa, ou reinventar.»
Franco Cazzola, O Que Resta da Esquerda, Cavalo de Ferro.