segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Registos e notas do fim-de-semana

Estado gastou 34 milhões em Beja sem saber se aeroporto era viável
— Tribunal de Contas arrasa projecto que acumula prejuízos há dez anos —

Alemanha está disponível para reforçar o fundo europeu, mas avisa que a paciência "não é ilimitada"

«Gerir um teatro não é como gerir uma empresa» (Miguel Lobo Antunes)

Quase 20 mil assinaturas contra os custos extra da factura da luz
Público (26/11/10)

Pedidos de empréstimo ao estrangeiro já custam 9%

Governo tenta travar reforma antecipadas

Políticos escapam a multas

Exército sem dinheiro para a comida

Instituto Superior de Engenharia de Lisboa aumenta ordenados

Caos nas multas de trânsito

Ministério não paga a escolas de música
Sol (26/11/10)

Governo reage à pressão externa e prepara-se para alterar leis do trabalho

Ministro das Finanças admite pressões para recorrer à ajuda externa, Sócrates nega
Público (27/11/10)

OE passou, mal-estar no PS não

Cimeira em Novembro, blindados em Dezembro

Um ano do Tratado de Lisboa sem festa nem pompa

Socialistas desistem de taxar dividendos da PT, Portucel e JM

Eleições que saem caro ao país
— Cavaco e Sócrates foram os piores em 1991 e 2009 —
Expresso (27/11/10)

Praticamente desde que tomou posse como primeiro-ministro, há quase seis anos, Sócrates começou a ser acusado de ser forte com os fracos e fraco com os fortes. Os rótulos são, normalmente, simplificações, porém, neste caso, a simplificação tem a virtude de revelar, de modo particularmente certeiro, um dos traços de carácter do chefe do actual Governo. De facto, desde o início, que Sócrates dirigiu sempre as suas denominadas «reformas estruturais» para os mais fracos e, sempre que simulou dirigi-las aos mais poderosos, ou recuou ou a simulação nem chegou a concretizar-se. 
Vem isto a propósito da forma como o nosso primeiro-ministro e outros seus colegas se comportam perante a arrogância alemã. O auto-intitulado "animal feroz" transforma-se recorrentemente num manso cordeiro, nas situações difíceis, nos momentos que exigem a tal fibra de que, sempre a despropósito, diz ser possuído. Na verdade, dói ouvir o silêncio do nosso e de outros chefes de Governo perante o discurso da chanceler alemã — discurso simultaneamente irresponsável, do ponto de vista da economia europeia, e insolente, do ponto de vista da solidariedade entre Estados da mesma União. É necessário que alguém recorde aos alemães que, se querem fazer contas de «deve e haver» entre países, essas contas não se fazem apenas relativamente ao presente. Nessas contas, o passado, não muito longínquo, também entra. E se quiserem comparar a capacidade de ser paciente, nós todos europeus estamos cá para pedir meças. Por exemplo, sem recuarmos muito no tempo, os alemães já têm as contas feitas sobre o mal que fizeram à Europa e ao mundo, entre 1939 e 1945? Mais recentemente, os alemães já têm as contas feitas  sobre quanto custou e ainda custa à União Europeia o processo de reunificação alemã? Os alemães querem mesmo saber quem tem sido mais paciente e com quem?
Mas nós temos um primeiro-ministro cujo patriotismo termina em Vilar Formoso e cuja coragem se esgota na decisão de descer salários e de cortar abonos de família.

Miguel Lobo Antunes, administrador da Culturgest e ex-administrador do Centro Cultural de Belém, teve a ousadia de dizer publicamente uma heresia, teve a coragem de responder à pergunta «Que devem saber de economia os directores de teatro?» com um taxativo: «Nada». E acrescentou: «Um director de teatro não deve saber nada de economia para que não se deixe contaminar por esse discurso que se pega a nós e dificilmente dele nos conseguimos libertar.» Lobo Antunes defendeu aquilo que sempre foi óbvio, e que só deixou de o ser, a partir do momento em que os engenheiros e os economistas passaram a ser os donos da política: «Gerir um teatro, ou uma actividade sem fins lucrativos não é o mesmo que gerir uma empresa.»
A Cultura, a Educação e a Ciência não são domínios onde se possam fazer contas de merceeiro, nem de vendedor, como a actual geração de políticos engenheiros gosta e pretende impor.

É interessante o modo como o Governo continua a pretender sol na eira e chuva no nabal: cria continuadamente piores condições de trabalho, paga cada vez pior e, ao mesmo tempo, escreve aos profissionais do Estado a pedir para que não se reformem.

É igualmente interessante tentar compreender até que ponto consegue chegar o amadorismo e a incompetência dos nosso governantes: há uns dias, o primeiro-ministro, com a habitual arrogância e falta de sentido do burlesco, garantia que a PT não iria antecipar a distribuição dos dividendos. No próximo mês de Dezembro, a PT vai fazer essa antecipação. 
Há uns dias, o ministro das Finanças, depois de publicamente desautorizado pela PT — que ignorou a sua «ordem» para que não fossem pagos dividendos antes de 2011 —, convidou os deputados do PS a tomarem a iniciativa legislativa de taxarem essa antecipação. Mas os deputados do Partido Socialista, depois de muitas hesitações, decidiram não corresponder ao pedido do seu ministro e nada farão.
Agora, já se sabe que não é apenas a PT que vai antecipar a entrega de dividendos, também a Portucel e a Jerónimo Martins o vão fazer.

Cavaco e Sócrates foram os que mais esbanjaram dinheiro em anos de eleições, respectivamente, 1991 e 2009. Já se sabia, mas não é demais lembrar.