segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Fazer greve, dia 24?

Sou de opinião, já o escrevi aqui várias vezes, que temos, em geral, um mau sindicalismo e, em particular, no que diz respeito ao sindicalismo docente, um muito mau sindicalismo. Trinta e seis anos de actividade sindical livre, em Portugal, têm demonstrado que, sempre que as direcções dos sindicatos estão vinculadas/ligadas a partidos políticos, a sua política sindical fica hipotecada aos interesses partidários, e a defesa dos direitos e dos interesses profissionais dos seus associados são, nos momentos decisivos, colocados em segundo plano. Esta situação tem sido particularmente evidente na vida das federações sindicais de professores — FNE e FENPROF.
Esta é, do meu ponto de vista, uma das causas que origina o descrédito do sindicalismo que temos.
Outra das causas é a falsa relação que as direcções sindicais têm com seus representados. A história do nosso sindicalismo, e, de modo especial, do sindicalismo docente, revela que os sindicatos são incapazes de conduzir um processo reivindicativo até ao fim, se se chegar a um ponto de elevada conflitualidade. Ora não acreditam nas convicções e na verdadeira força de quem eles representam, ora temem perder o controlo do processo e ser ultrapassados pelo seu dinamismo. Por isso, mesmo quando têm uma enorme mobilização a sustentar um movimento reivindicativo, preferem acordos de circunstância que salvaguardem as partes envolvidas e que lhes confira, a eles sindicatos, pelo menos aparentemente, maior estatuto negocial em situações futuras. Na realidade, os nossos sindicatos são mais zelosos do statu quo que muitos outros agentes sociais.
Significa isto que não tenho nenhuma expectativa positiva relativamente à acção sindical, enquanto tivermos as direcções sindicais que temos e enquanto houver a promiscuidade que existe entre partidos e sindicatos.
Dito isto, que fazer no dia 24 de Novembro, dia de greve geral?

Sei, sabemos todos, que a situação política, económica e social que Portugal vive, e que vários outros países da Europa vivem, é grave e vai agravar-se dramaticamente no futuro próximo. Portugal acumula os problemas derivados da objectiva incompetência dos governantes que tem com os problemas derivados do sistema económico e financeiro em que a Europa e grande parte do mundo vivem.
Manter o actual sistema é inaceitável, seja qual for o ponto de vista. É preciso mudá-lo, transformá-lo, ultrapassá-lo.
Intervir local e globalmente, intervir intelectual e socialmente são as vias que teremos de percorrer, se queremos desenhar um novo modo de vida. As reflexões, as ideias, os escritos que neste momento, em todo o mundo, estão a ser apresentados e escrutinados por filósofos, historiadores, economistas, jornalistas, políticos, sindicalistas e outros cidadãos têm de ser aprofundados, desenvolvidos e debatidos, mas também têm de ser acompanhados de crescentes movimentos sociais que ultrapassem os espartilhos sindicais e partidários e que manifestem o seu contínuo protesto e firme oposição à situação a que chegámos.
Temos de pugnar e de trabalhar pela construção de alternativas, com novos sistemas económicos, com novas regras e diferentes objectivos.
Farei greve, no próximo dia 24 de Novembro.