«O bullying e a violência contra professores [...] é o problema mais premente da escola pública. E é uma questão que vai agravar-se à medida que a sociedade portuguesa se afunda na miséria moral e política.
As autoridades educativas e os sindicatos, forjados num caldo de cultura que desvaloriza a autoridade dos professores, não compreendem o fenómeno, não o vivem e não sabem como lidar com ele. Não têm respostas capazes. E é por isso que tendem a desvalorizar os casos, branquear e revelar simpatia ou compreensão pelos agressores. Muitos pais de alunos, cujo carácter foi forjado por uma escola frouxa e ambientes que acentuam o relativismo e uma visão darwinista da vida e da sociedade, revelam, regra geral, simpatias pelos bullies e desprezo pelas vítimas. São causa e consequência do fenómeno de desestruturação da sociedade portuguesa. Dificilmente terão salvação. Com pais assim, acabarão inevitavelmente no Rendimento Social de Inserção ou na cadeia.
O alongamento da carreira profissional - estendida até aos 65 anos por via das recentes alterações às regras da aposentação - conduzirá a um aumento exponencial de baixas psiquiátricas prolongadas, burn out e suicídios de docentes. A violência contra professores tenderá a agravar-se e a sociedade naturalizará essa violência como o preço a pagar por uma profissão que perdeu prestígio e autoridade e se deixou contaminar pela concepção da escola/armazém e a ideologia do professor-faz-tudo.
As escolas públicas tendem a tornar-se refúgios de alunos da classe baixa e os pais com poder económico e alternativas olharão para os colégios privados como as instituições naturalmente vocacionadas para protegerem e acolherem os seus filhos. À medida que os filhos da classe média abandonarem as escolas públicas, estas tornar-se-ão, cada vez mais, espaços, sem lei nem normas, onde os mais fortes fazem valer a sua autoridade.»
Ramiro Marques