«Norton, de alguma maneira, sentiu-se insultada pela recusa de Morini em acompanhá-los. Não voltaram a telefonar-se. Morini poderia tê-lo feito, mas a seu modo e antes que os seus amigos empreendessem a busca de Archimboldi, ele, como Schwob em Samoa, já tinha iniciado uma viagem, uma viagem que não era em torno do sepulcro de um bravo, mas em torno de uma resignação, uma experiência em certo sentido nova, pois esta resignação não era o que vulgarmente se chama resignação, nem sequer paciência ou conformidade, mas mais um estado de mansidão, uma humildade requintada e incompreensível que o fazia chorar sem que viesse a propósito e onde a sua própria imagem, aquilo que Morini percebia de Morini, se ia diluindo de forma gradual e incontida, como um rio que deixa de ser rio ou como uma árvore que arde no horizonte sem saber que está a arder.»
Roberto Bolaño, 2666, p. 134.