quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Às quartas

O Visitante Nocturno

eram seus olhos verdes
um sonho que chorava no asfalto da rua
e os versículos da sua inocência
uma sede no homem enterrada

desatou o cavalo verde da chuva dos cravos do raio
e deslizou através das nuvens
para visitar o sonho adormecido nas camas das crianças
e alimentá-las, ou dar-lhes de beber, da fonte do verde mel.

seus pés bons
e seu corpo trémulo e nu
esfolavam-se nos mastros da noite.
e nos seus dorsos fundiam-se colunas de granito.
foi enterrado sobre os beirados dos tectos e das torres
crucificado, sangrando, mordido nas trevas pelos gatos.

o peixe negro salta na corrente do sangue
e escapa:
comboios de gente surda
trombetas que ressoam,
génios que gritam dentro de uma garrafa
vozes que clamam na garganta do asfalto

quem, no ventre tenebroso, morreu
e quando secará o sangue?

Muhammad 'Afifi Matar
(Trad.: Adalberto Alves)