«Assim que chegou a Madrid, Espinoza telefonou a Pelletier. Este, que já estava instalado em sua casa há uma hora, disse-lhe que não havia qualquer novidade relativamente a Morini. Durante todo o dia, tanto Espinoza como Pelletier estiveram a deixar breves mensagens cada vez mais resignadas no atendedor do italiano. No segundo dia, ficaram verdadeiramente nervosos e até brincaram com a ideia de viajarem de avião imediatamente até Turim e, no caso de não encontrarem Morini, pôr o assunto nas mãos da justiça. Mas não quiseram precipitar-se nem fazer figuras ridículas e ficaram quietos.
O terceiro dia foi idêntico ao segundo: ligaram para Morini, ligaram um ao outro, ponderaram várias formas de actuação, ponderaram a saúde mental de Morini, o seu inegável grau de maturidade e senso comum, e não fizeram nada. Ao quarto dia, Pelletier ligou directamente para a Universidade de Turim. Falou com um jovem austríaco que trabalhava temporariamente no departamento de Alemão. O austríaco não fazia ideia de onde Morini podia estar. Pediu-lhe que passasse o telefone à secretária do departamento. O austríaco informou-o de que a secretária tinha saído para tomar o pequeno-almoço e ainda não voltara. Pelletier ligou logo para Espinoza e contou-lhe o telefonema com requinte de pormenores. Espinoza disse-lhe que o deixasse a ele experimentar.
Dessa vez quem atendeu não foi o austríaco, mas um estudante de Filologia Germânica. O alemão do estudante, porém, não era muito bom, então Espinoza começou a falar italiano com ele. Perguntou se a secretária do departamento tinha voltado. O estudante respondeu-lhe que estava sozinho, que todos, pelos vistos, haviam saído para tomar o pequeno-almoço e que não estava ninguém no departamento. Espinoza quis saber a que horas tomavam o pequeno-almoço na Universidade de Turim e quanto tempo costumava demorar. O estudante não entendeu o deficiente italiano de Espinoza e este teve de repetir a pergunta duas vezes, até ficar um pouco agressivo.
O estudante disse-lhe que ele, por exemplo, quase nunca tomava o pequeno-almoço, mas que isso não significava nada, que cada pessoa tinha gostos diferentes. Percebia isto ou não percebia?»
O terceiro dia foi idêntico ao segundo: ligaram para Morini, ligaram um ao outro, ponderaram várias formas de actuação, ponderaram a saúde mental de Morini, o seu inegável grau de maturidade e senso comum, e não fizeram nada. Ao quarto dia, Pelletier ligou directamente para a Universidade de Turim. Falou com um jovem austríaco que trabalhava temporariamente no departamento de Alemão. O austríaco não fazia ideia de onde Morini podia estar. Pediu-lhe que passasse o telefone à secretária do departamento. O austríaco informou-o de que a secretária tinha saído para tomar o pequeno-almoço e ainda não voltara. Pelletier ligou logo para Espinoza e contou-lhe o telefonema com requinte de pormenores. Espinoza disse-lhe que o deixasse a ele experimentar.
Dessa vez quem atendeu não foi o austríaco, mas um estudante de Filologia Germânica. O alemão do estudante, porém, não era muito bom, então Espinoza começou a falar italiano com ele. Perguntou se a secretária do departamento tinha voltado. O estudante respondeu-lhe que estava sozinho, que todos, pelos vistos, haviam saído para tomar o pequeno-almoço e que não estava ninguém no departamento. Espinoza quis saber a que horas tomavam o pequeno-almoço na Universidade de Turim e quanto tempo costumava demorar. O estudante não entendeu o deficiente italiano de Espinoza e este teve de repetir a pergunta duas vezes, até ficar um pouco agressivo.
O estudante disse-lhe que ele, por exemplo, quase nunca tomava o pequeno-almoço, mas que isso não significava nada, que cada pessoa tinha gostos diferentes. Percebia isto ou não percebia?»
Roberto Bolaño, 2666, p. 117.