quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Às quartas

No Fundo Florestal do Dia

O acto simples da aranha que tece uma estrela na penunbra,
o peso elástico do gato em direcção à borboleta,
a mão que resvala no lombo morno do cavalo,
o olor sideral da flor do café,
o sabor azul da baunilha,
detêm-me no fundo do dia.

Há um resplendor côncavo de fetos,
uma ressonância de insectos,
uma presença cambiante de água nos recantos pétreos.

Reconheço aqui minha idade feita de sons silvestres,
de lume de orquídea,
de cálido espaço florestal, onde o pica-pau faz soar o tempo.
Aqui o entardecer inventa uma rubra pedraria,
uma constelação de pirilampos,
uma queda de folhas lúcidas nos sentidos,
rumo ao fundo do dia,
onde se encantam meus ossos agrestes.

Vicente Gerbasi
(Trad.: José Bento)