«Quando se voltaram, Pelletier e Espinoza depararam com uma mulher já de idade, com uma figura semelhante, segundo confessaria Pelletier muito depois, a Marlene Dietrich, uma mulher que apesar dos anos conservara a sua determinação intacta, uma mulher que não se agarrava à beira do abismo, mas sim que caía no abismo com curiosidade e elegância. Uma mulher que caía no abismo sentada.
- O meu marido conheceu todos os escritores alemães e os escritores alemães gostavam do meu marido e respeitavam-no, embora depois alguns dissessem coisa horríveis sobre ele, algumas incorrectas - disse a senhora Bubis com um sorriso.
Falaram de Archimboldi e a Sr.ª Bubis mandou trazer bolos e chá, embora ela tenha bebido vodka, uma coisa que surpreendeu Espinoza e Pelletier, não pelo facto de a senhora começar a beber tão cedo, mas sim por não lhes ter oferecido um copo a eles, copo que, por outro lado, teria sido rejeitado.
- A única pessoa na editora que conhecia a obra de Archimboldi na perfeição - explicou a Sr.ª Bubis - era o senhor Bubis, que lhe publicou todos os seus livros.
Mas ela interrogava-se (e de passagem perguntava-lhes a eles) até que ponto alguém pode conhecer a obra de outrem.
- A mim, por exemplo, apaixona-me a obra de Grosz - disse ela indicando os desenhos de Grosz pendurados na parede - mas conheço realmente a sua obra? As suas histórias fazem-me rir, por momentos penso que Grosz as desenhou para que eu me risse, por vezes o riso transforma-se em gargalhadas e as gargalhadas num ataque de hilaridade, mas uma vez conheci um crítico de arte que gostava de Grosz, claro, e que, no entanto, se deprimia imenso quando assistia a uma retrospectiva da sua obra ou por motivos profissionais tinha de estudar alguma tela ou algum desenho. E essas depressões ou esses períodos de tristeza costumavam durar-lhe semanas. Esse crítico de arte era meu amigo, embora nunca tivéssemos tocado no tema Grosz. Uma vez, porém, disse-lhe o que acontecia comigo. A princípio não queria acreditar. Depois começou a abanar a cabeça. Depois olhou para mim de cima a baixo como se não me conhecesse. Pensei que tinha ficado louco. Ele rompeu a sua amizade comigo para sempre. Há pouco tempo contaram-me que ainda diz que eu não sei nada sobre Grosz e que o meu gosto estético é semelhante ao de uma vaca. Bem, por mim pode dizer o que quiser. Eu rio-me com Grosz, ele deprime-se com Grozs, mas quem conhece Grosz realmente?»
- O meu marido conheceu todos os escritores alemães e os escritores alemães gostavam do meu marido e respeitavam-no, embora depois alguns dissessem coisa horríveis sobre ele, algumas incorrectas - disse a senhora Bubis com um sorriso.
Falaram de Archimboldi e a Sr.ª Bubis mandou trazer bolos e chá, embora ela tenha bebido vodka, uma coisa que surpreendeu Espinoza e Pelletier, não pelo facto de a senhora começar a beber tão cedo, mas sim por não lhes ter oferecido um copo a eles, copo que, por outro lado, teria sido rejeitado.
- A única pessoa na editora que conhecia a obra de Archimboldi na perfeição - explicou a Sr.ª Bubis - era o senhor Bubis, que lhe publicou todos os seus livros.
Mas ela interrogava-se (e de passagem perguntava-lhes a eles) até que ponto alguém pode conhecer a obra de outrem.
- A mim, por exemplo, apaixona-me a obra de Grosz - disse ela indicando os desenhos de Grosz pendurados na parede - mas conheço realmente a sua obra? As suas histórias fazem-me rir, por momentos penso que Grosz as desenhou para que eu me risse, por vezes o riso transforma-se em gargalhadas e as gargalhadas num ataque de hilaridade, mas uma vez conheci um crítico de arte que gostava de Grosz, claro, e que, no entanto, se deprimia imenso quando assistia a uma retrospectiva da sua obra ou por motivos profissionais tinha de estudar alguma tela ou algum desenho. E essas depressões ou esses períodos de tristeza costumavam durar-lhe semanas. Esse crítico de arte era meu amigo, embora nunca tivéssemos tocado no tema Grosz. Uma vez, porém, disse-lhe o que acontecia comigo. A princípio não queria acreditar. Depois começou a abanar a cabeça. Depois olhou para mim de cima a baixo como se não me conhecesse. Pensei que tinha ficado louco. Ele rompeu a sua amizade comigo para sempre. Há pouco tempo contaram-me que ainda diz que eu não sei nada sobre Grosz e que o meu gosto estético é semelhante ao de uma vaca. Bem, por mim pode dizer o que quiser. Eu rio-me com Grosz, ele deprime-se com Grozs, mas quem conhece Grosz realmente?»
Roberto Bolaño, 2666, pp. 41-42.