«Com um enorme mandato para cumprir, com mais de quatro anos e meio de governação pela frente, o desgaste provocado por uma série de erros de palmatória, designadamente de estilo, começou a fazer-se sentir. A estratégia de confronto teve uma única consequência: a crispação desnecessária do ambiente político e social.
A guerra declarada sobretudo aos juízes, professores e sindicatos começava a provocar reacções contraditórias, tais foram os dislates governamentais. A manobra de diminuição do período de férias judiciais, o simulacro de avaliação de professores e alunos e a imposição de uma certa forma de negociar tornaram-se em obsessões dos ministros, agindo à imagem e semelhança do chefe. E com o aval dele, em privado e em público. Qualquer contrariedade, qualquer obstáculo, provocava a fúria do "homem" e do "líder". [...]
As nomeações de boys e girls para o aparelho de Estado já estavam em velocidade de cruzeiro, isto é, era mais do mesmo. Por diversas vezes, no âmbito do meu trabalho jornalístico, denunciei a invasão socialista e as nomeações fulminantes em variadíssimos sectores, nomeadamente nos serviços de informações e nas polícias. Fi-lo com este governo, como o fiz com os anteriores, independentemente da suas cores partidárias e estilos mais ou menos trauliteiros.
Um mês e sete dias depois da posse, José Sócrates escolheu o novo 'Senhor SIRP [Serviço de Informação da República Portuguesa], Júlio Pereira, um conhecido do Serviço de Informações e Segurança (SIS) e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A nomeação antecedeu uma espécie de revolução silenciosa. Aliás, não foi preciso esperar muito mais tempo. Sete meses depois da eleição do governo de maioria absoluta, a dimensão do "Estado Rosa" faria corar o criador do "Estado Laranja", como destaquei num artigo, em 20 de Setembro de 2005.
Da maioria absoluta, alcançada nas urnas, à prática do poder absoluto foi um passo. Um passo que gerou a maior desconfiança em relação a um primeiro-ministro com poderes, directos e derivados, nunca reunidos num governante. E da concentração de poderes ao seu exercício foi outro passo. Mais parecia "Deus". Enquanto não lhe destaparam os pés de barro, foi um regabofe de exibicionismo de autoridade. Um dos artigos que assinei sobre as 'secretas' irritou-o, em privado, claro está, pelo que a subsequente correria para o telefone e para apresentar uma queixa-crime só surpreendeu quem não o conhecia. [...] A partir daí a minha vida profissional começou a correr mal.
Não fui o único jornalista que escreveu e assinou artigos desfavoráveis, mas verdadeiros. Nem fui o único a ter problemas posteriormente. Senão vejamos, para já, um caso paradigmático.
Depois de ter começado a reeditar uma série de artigos, com o título "O Polvo", que retratavam as aventuras e as redes de cumplicidade entre socialistas, nomeadamente os que passaram por Macau, uns mais "soaristas" do que outros, Joaquim Vieira acabou por ser despedido, inesperadamente, de director da revista "Grande Reportagem", em 20 de Novembro de 2005. Obviamente, ou não, a decisão, certamente muito difícil, pertenceu à administração de Joaquim Vieira que, entretanto já comprara a "Lusomundo", depois de José Sócrates ter assumido o poder. Coincidência? [...]
Foi o mesmo tipo de coincidência que me aconteceu a mim, mais tarde, em Janeiro de 2007, depois de uma série de artigos sobre a polémica passagem de aviões da CIA e de uma reportagem que realizei nos Açores, [...] e para a qual não obtive autorização para publicar, dando origem à rescisão do meu contrato laboral. Não necessito de me socorrer do que me aconteceu, pois sucederam outros casos semelhantes a outros jornalistas, uns mais credíveis do que outros, mas sempre com o mesmo denominador comum: artigos desfavoráveis a José Sócrates.»
A guerra declarada sobretudo aos juízes, professores e sindicatos começava a provocar reacções contraditórias, tais foram os dislates governamentais. A manobra de diminuição do período de férias judiciais, o simulacro de avaliação de professores e alunos e a imposição de uma certa forma de negociar tornaram-se em obsessões dos ministros, agindo à imagem e semelhança do chefe. E com o aval dele, em privado e em público. Qualquer contrariedade, qualquer obstáculo, provocava a fúria do "homem" e do "líder". [...]
As nomeações de boys e girls para o aparelho de Estado já estavam em velocidade de cruzeiro, isto é, era mais do mesmo. Por diversas vezes, no âmbito do meu trabalho jornalístico, denunciei a invasão socialista e as nomeações fulminantes em variadíssimos sectores, nomeadamente nos serviços de informações e nas polícias. Fi-lo com este governo, como o fiz com os anteriores, independentemente da suas cores partidárias e estilos mais ou menos trauliteiros.
Um mês e sete dias depois da posse, José Sócrates escolheu o novo 'Senhor SIRP [Serviço de Informação da República Portuguesa], Júlio Pereira, um conhecido do Serviço de Informações e Segurança (SIS) e do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). A nomeação antecedeu uma espécie de revolução silenciosa. Aliás, não foi preciso esperar muito mais tempo. Sete meses depois da eleição do governo de maioria absoluta, a dimensão do "Estado Rosa" faria corar o criador do "Estado Laranja", como destaquei num artigo, em 20 de Setembro de 2005.
Da maioria absoluta, alcançada nas urnas, à prática do poder absoluto foi um passo. Um passo que gerou a maior desconfiança em relação a um primeiro-ministro com poderes, directos e derivados, nunca reunidos num governante. E da concentração de poderes ao seu exercício foi outro passo. Mais parecia "Deus". Enquanto não lhe destaparam os pés de barro, foi um regabofe de exibicionismo de autoridade. Um dos artigos que assinei sobre as 'secretas' irritou-o, em privado, claro está, pelo que a subsequente correria para o telefone e para apresentar uma queixa-crime só surpreendeu quem não o conhecia. [...] A partir daí a minha vida profissional começou a correr mal.
Não fui o único jornalista que escreveu e assinou artigos desfavoráveis, mas verdadeiros. Nem fui o único a ter problemas posteriormente. Senão vejamos, para já, um caso paradigmático.
Depois de ter começado a reeditar uma série de artigos, com o título "O Polvo", que retratavam as aventuras e as redes de cumplicidade entre socialistas, nomeadamente os que passaram por Macau, uns mais "soaristas" do que outros, Joaquim Vieira acabou por ser despedido, inesperadamente, de director da revista "Grande Reportagem", em 20 de Novembro de 2005. Obviamente, ou não, a decisão, certamente muito difícil, pertenceu à administração de Joaquim Vieira que, entretanto já comprara a "Lusomundo", depois de José Sócrates ter assumido o poder. Coincidência? [...]
Foi o mesmo tipo de coincidência que me aconteceu a mim, mais tarde, em Janeiro de 2007, depois de uma série de artigos sobre a polémica passagem de aviões da CIA e de uma reportagem que realizei nos Açores, [...] e para a qual não obtive autorização para publicar, dando origem à rescisão do meu contrato laboral. Não necessito de me socorrer do que me aconteceu, pois sucederam outros casos semelhantes a outros jornalistas, uns mais credíveis do que outros, mas sempre com o mesmo denominador comum: artigos desfavoráveis a José Sócrates.»
Rui Costa Pinto, José Sócrates - o Homem e o Líder, Exclusivo Edições, pp. 128-131.