Madrugada: As Cinzas
Madrugada, as cinzas te saúdam
De novo moldas contra a penumbra, maldas
o galo do poema, a tua armadilha, o fogo
ardendo cego nos desvãos do sangue
De novo ergues sobre a areia, madrugada, o corpo
Amaldiçoado duma palavra, a teia rediviva
E a sombra crespa do desejo negro
Eriçando o pêlo, o cão da página
Riscos se entrelaçam, fisgam a mosca do deleite
e já a ruína
tenaz, fibrosa, agônica sob a folhagem, mostra
o olho menstrual e sádico do destino
Um sonho cresce e se entumece
no rumor sexual dos ecos se compondo
E batem à porta
- os gonzos, os gozos da ferrugem
o rangido longínquo vagindo de outro mundo
De tudo, madrugada, a dúvida traça um rosto
exposto neste espelho contra o sol: O soletrado
calcinado
Max Martins