Directores ponderam preencher os objectivos individuais dos docentes
«"Chega um momento em que não podemos fazer mais nada"». É desta forma que Rosário Gama, presidente do conselho executivo da Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, comenta a possibilidade de um grupo de 191 escolas que se opõem ao actual modelo de avaliação vir a preencher os objectivos individuais dos professores que não os entregaram, para evitar que estes sejam penalizados pelo Ministério da Educação.»
Habituei-me, ao longo dos últimos meses, a admirar a colega Rosário Gama, pela sua lucidez, pela sua coragem e determinação. Exactamente por isso, não entendo este novo discurso, esta nova posição.
Pensava eu que, amanhã, nas reunião dos PCEs, um dos pontos que iria estar em cima da mesa seria a demissão ou não demissão, em bloco, de várias dezenas de PCEs. Pensava eu que seria isso, não porque hoje tenha acordado mal disposto, mas porque, na reunião anterior, essa tinha sido uma possibilidade discutida, e adiada a sua decisão para amanhã.
Evidentemente que, como tudo na vida, esta opção tem prós e contras, e, por isso, o assunto merecia, como tem merecido, reflexão e debate, e não poderia ser nunca objecto de uma decisão espontânea, fosse ela qual fosse. Ora, amanhã, julgava eu, seria o momento para ser tomada uma decisão definitiva e já devidamente amadurecida.
Segundo parece, enganei-me. Segundo parece, ainda antes da discussão ser realizada já a colega Rosário Gama tem por certo e definitivo que há momentos em que nada pode ser feito. E que, segundo parece, esse momento chegou.
1. Discordo, em absoluto, da premissa que afirma que há momentos em que não podemos fazer nada. É uma afirmação potencialmente tão verdadeira como a sua oposta. Para além de ser uma afirmação gratuita, que não diz nada de substantivo, é, objectivamente, uma afirmação derrotista e uma afirmação a partir da qual todos os comportamentos estão justificados e desculpabilizados.
2. Tenho por certo que uma demissão em bloco de uma ou duas centenas de PCEs constituiria um seríssimo revés para o Ministério da Educação e daria um novo e importante impulso ao movimento de contestação. Não colhe a tese contrária, sustentada no argumento de que isso teria como consequência a saída de cena das vozes contestatárias. Este argumento esquece o impacto que esta iniciativa teria junto da opinião pública como também esquece as enormes dificuldades que o ME teria para conseguir substituir todos os CEs demissionários. Provavelmente, não o conseguiria fazer, pelo menos em tempo útil, e, assim, as vozes contestatárias continuariam a pronunciar-se, e com autoridade reforçada. Reforçada pela coragem e coerência do acto da demissão e pela objectiva ruptura com a política e a prática da tutela.
E já não acrescento a isto algo que é do foro estritamente individual, que é a consciência profissional de cada um, que constitui o nosso primeiro e último reduto no exercício da docência.
3. Finalmente, para além de não compreender a capitulação que as palavras de Rosário Gama reflectem, não consigo compreender também a anunciada intenção de poderem ser os PCEs a formular os Objectivos Individuais dos professores que se recusaram fazê-lo.
Pergunto: com que legitimidade o fazem?; dizem que é para defenderem os professores?? Alguma coisa me está a escapar, certamente.
Os professores que decidiram não apresentar os Objectivos Individuais foram determinados pela sua consciência profissional a não fazê-lo. Voluntária, consciente e decididamente. Consideram uma indignidade profissional serem avaliados por um modelo tecnicamente incompetente e recusam ser coniventes com um processo vergonhoso que começou com o concurso para professor titular e culminou com o indecoroso simplex. Nós que decidimos isto não pedimos a ninguém que nos defenda. Se quiséssemos defesa, teríamos entregado os objectivos individuais. Ou ainda há alguém que não tenha percebido a razão pela qual não entregámos os tais objectivos individuais?
Espero, sinceramente, que a colega Rosário Gama e os outros PCEs não almejem fazer o papel do escuteiro que, para cumprir a sua boa acção diária, ajudou, à força, a velhinha a atravessar a rua, quando ela não queria nem precisava de atravessá-la.
Pela minha parte, agradeço, mas dispenso qualquer ajuda para mudar de passeio.
Eu fico deste lado.
P.S. À noite, a colega Rosário Gama tentou esclarecer o que tinha afirmado ao Diário de Notícias. Confesso que, após ter lido várias vezes o esclarecimento, não o consegui perceber. Mas o problema é, com certeza, meu. Seja como for, só desejo que a colega não reafirme as ideias acima criticadas.
«"Chega um momento em que não podemos fazer mais nada"». É desta forma que Rosário Gama, presidente do conselho executivo da Secundária Infanta D. Maria, em Coimbra, comenta a possibilidade de um grupo de 191 escolas que se opõem ao actual modelo de avaliação vir a preencher os objectivos individuais dos professores que não os entregaram, para evitar que estes sejam penalizados pelo Ministério da Educação.»
Diário de Notícias (6/2/09).
Quando, hoje de manhã, vi a primeira página do DN e li esta notícia, tive dificuldade em acreditar no que estava escrito. Agora, ao fim da tarde, e sem nenhum desmentido, tenho de acreditar que se trata, lamentavelmente, de uma notícia verdadeira.Habituei-me, ao longo dos últimos meses, a admirar a colega Rosário Gama, pela sua lucidez, pela sua coragem e determinação. Exactamente por isso, não entendo este novo discurso, esta nova posição.
Pensava eu que, amanhã, nas reunião dos PCEs, um dos pontos que iria estar em cima da mesa seria a demissão ou não demissão, em bloco, de várias dezenas de PCEs. Pensava eu que seria isso, não porque hoje tenha acordado mal disposto, mas porque, na reunião anterior, essa tinha sido uma possibilidade discutida, e adiada a sua decisão para amanhã.
Evidentemente que, como tudo na vida, esta opção tem prós e contras, e, por isso, o assunto merecia, como tem merecido, reflexão e debate, e não poderia ser nunca objecto de uma decisão espontânea, fosse ela qual fosse. Ora, amanhã, julgava eu, seria o momento para ser tomada uma decisão definitiva e já devidamente amadurecida.
Segundo parece, enganei-me. Segundo parece, ainda antes da discussão ser realizada já a colega Rosário Gama tem por certo e definitivo que há momentos em que nada pode ser feito. E que, segundo parece, esse momento chegou.
1. Discordo, em absoluto, da premissa que afirma que há momentos em que não podemos fazer nada. É uma afirmação potencialmente tão verdadeira como a sua oposta. Para além de ser uma afirmação gratuita, que não diz nada de substantivo, é, objectivamente, uma afirmação derrotista e uma afirmação a partir da qual todos os comportamentos estão justificados e desculpabilizados.
2. Tenho por certo que uma demissão em bloco de uma ou duas centenas de PCEs constituiria um seríssimo revés para o Ministério da Educação e daria um novo e importante impulso ao movimento de contestação. Não colhe a tese contrária, sustentada no argumento de que isso teria como consequência a saída de cena das vozes contestatárias. Este argumento esquece o impacto que esta iniciativa teria junto da opinião pública como também esquece as enormes dificuldades que o ME teria para conseguir substituir todos os CEs demissionários. Provavelmente, não o conseguiria fazer, pelo menos em tempo útil, e, assim, as vozes contestatárias continuariam a pronunciar-se, e com autoridade reforçada. Reforçada pela coragem e coerência do acto da demissão e pela objectiva ruptura com a política e a prática da tutela.
E já não acrescento a isto algo que é do foro estritamente individual, que é a consciência profissional de cada um, que constitui o nosso primeiro e último reduto no exercício da docência.
3. Finalmente, para além de não compreender a capitulação que as palavras de Rosário Gama reflectem, não consigo compreender também a anunciada intenção de poderem ser os PCEs a formular os Objectivos Individuais dos professores que se recusaram fazê-lo.
Pergunto: com que legitimidade o fazem?; dizem que é para defenderem os professores?? Alguma coisa me está a escapar, certamente.
Os professores que decidiram não apresentar os Objectivos Individuais foram determinados pela sua consciência profissional a não fazê-lo. Voluntária, consciente e decididamente. Consideram uma indignidade profissional serem avaliados por um modelo tecnicamente incompetente e recusam ser coniventes com um processo vergonhoso que começou com o concurso para professor titular e culminou com o indecoroso simplex. Nós que decidimos isto não pedimos a ninguém que nos defenda. Se quiséssemos defesa, teríamos entregado os objectivos individuais. Ou ainda há alguém que não tenha percebido a razão pela qual não entregámos os tais objectivos individuais?
Espero, sinceramente, que a colega Rosário Gama e os outros PCEs não almejem fazer o papel do escuteiro que, para cumprir a sua boa acção diária, ajudou, à força, a velhinha a atravessar a rua, quando ela não queria nem precisava de atravessá-la.
Pela minha parte, agradeço, mas dispenso qualquer ajuda para mudar de passeio.
Eu fico deste lado.
P.S. À noite, a colega Rosário Gama tentou esclarecer o que tinha afirmado ao Diário de Notícias. Confesso que, após ter lido várias vezes o esclarecimento, não o consegui perceber. Mas o problema é, com certeza, meu. Seja como for, só desejo que a colega não reafirme as ideias acima criticadas.