quinta-feira, 29 de março de 2012

Trechos - Franco Cazzola

«Douglas Hibbs [1977, 1471] propôs uma escala do interesse proclamado por parte dos diversos partidos (socialistas e/ou trabalhistas, de centro, conservadores) sobre alguns temas. Volto a propô-la aqui (tabela 2.1) para depois a integrar noutras temáticas que, na base da literatura de então, mas também na mais recente, deveriam constituir uma série de "preferências" que, teoricamente, diferenciariam os governos de esquerda dos de direita.

TABELA 2.1. ESCALA DAS PRIORIDADES PROGRAMÁTICAS
                                                                                SOCIALISTAS                     CENTRISTAS            CONSERVADORES
Pleno emprego                                                1.º                            3.º                            4.º
Estabilidade dos preços                                   4.º                           1.º                             1.º
Redistribuição da riqueza                                 2.º                           4.º                             5.º
Crescimento económico                                   3.º                           2.º                             3.º
Equilíbrio da balança de pagamentos                5.º                           5.º                             2.º

Poucos anos mais tarde, os volumes que relatavam os resultados da investigação sobre o welfare state, coordenada por Peter Flora, evidenciavam-se outros indicadores das diferenças entre governos de direita e governos de esquerda. Em particular defendia-se que:
"[...] os partidos socialistas, dado que tradicionalmente apoiavam a taxação progressiva, quer com a finalidade de fazer progredir a justiça social quer para mobilizar os recursos fiscais necessários à execução das reformas sociais, são considerados favoráveis também a crescentes níveis de despesa total. Pelo contrário, espera-se que os partidos liberais e conservadores se oponham não só ao desenvolvimento do welfare state, mas também a qualquer actividade que ultrapasse as funções clássicas do Estado e em particular as intervenções na economia capitalista. Além disso, conta-se que estes mantenham os níveis e os incrementos de despesa o mais baixo possível" [kohl 1983, 389-390].
 É uma família de estudos que necessitaria, para ser plenamente convincente, de dados profundamente analíticos. Como recorda Fabbrini, as investigações que revelam uma estreita conexão entre evolução da despesa pública e presença das esquerdas nos governos concluem que, quando os partidos de esquerda:
      — estiveram no governo durante um número de anos suficiente para levar a cabo os seus programas;
      — não sofreram condicionamentos por partidos de coligação;
      — usifruíram de um claro apoio parlamentar;
      — a despesa pública aumentou, mas também se acentuou o seu carácter redistributivo»
Franco Cazzola, O Que Resta da Esquerda, Cavalo de Ferro.