quarta-feira, 28 de março de 2012

A Educação como uma empreitada

Li hoje, no jornal Público, um artigo assinado por António José Seguro, líder do PS, sobre a Escola Pública. Aquilo que deveria ser uma contribuição para um debate promovido por aquele jornal sobre a importância da Escola é, na realidade, um folheto publicitário sobre uma (supostamente orgulhosa) obra realizada pelos governos de Sócrates, no domínio da Educação. É um folheto publicitário e com publicidade enganosa. 
Quem ler o artigo e não estiver minimamente informado sobre o que se passou nos últimos seis anos de governação socialista fica a pensar que, na área da Educação, o país deu um salto único e fantástico e que, por essa razão, nós, portugueses, deveremos sentir-nos particularmente gratos a Sócrates e a Rodrigues.
Para além disto, que se infere do que diz António José Seguro? Infere-se que, em Educação, quantidade e qualidade são termos sinónimos. É por isso que o seu artigo é praticamente um enumerar de despesas e de medidas administrativas realizadas por Sócrates. Seguro não perde um minuto a reflectir se, da parte dos governos de Sócrates, houve algum momento de preocupação com a qualidade da educação. O que, nesse artigo, teria sido necessário perguntar é se se vislumbra alguma evolução qualitativa, imediata ou a médio prazo, na educação dos portugueses, como resultado da política socialista dos últimos seis anos. Esta era a pergunta que Seguro deveria ter formulado e à qual deveria ter respondido. Mas isto não parece interessar a António José Seguro, como não interessou a Sócrates. Ambos parecem ignorar que ser político da Educação não é o mesmo que ser empreiteiro da Educação.
E mesmo que, no seu artigo, tivesse ficado apenas pelas empreitadas, Seguro deveria ter tido algum cuidado com o que escreve, porque o recente relatório do Tribunal de Contas sobre a acção da Parque Escolar, só por si, deveria tê-lo inibido de proceder a elogios levianos e superficiais. Contudo, uma visita a algumas escolas secundárias intervencionadas proporcionar-lhe-ia certamente adicionais motivos inibitórios de elogios acerca da obra realizada. E não  vou sequer debruçar-me sobre os milhões de euros que daqui a três ou quatro anos vão ser necessários gastar em reparações, devido à falta de qualidade de muitos materiais utilizados ou à má execução dos trabalhos efectuados.

Todavia, para além de listar obras, Seguro também não resistiu à tentação de elogiar as Novas Oportunidades, afirmando, com uma impressionante demagogia, que 1,4 milhões de portugueses voltaram aos percursos formais de qualificação. Vamos admitir (sem conferir) que 1,4 milhões de portugueses voltaram. Contudo, o que deveria preocupar Seguro é saber como é que esses portugueses saíram ou vão sair desses percursos. Isto é: que qualificação esses portugueses vão efectivamente possuir, qual a qualidade e a exigência da formação que lhes foi/está a ser ministrada? Saber isto é que é, para esses portugueses e para o país, verdadeiramente importante.
Do mesmo modo que criar cursos Profissionais a granel, amontoar cursos de Educação e Formação, alargar sem sustentação a escolaridade obrigatória para 12 anos são medidas administrativas fáceis de realizar, mas não passam disso mesmo, de meras medidas administrativas, se não forem acompanhadas com uma adequada organização de programas, de formação de professores e de criação de condições objectivas que conduzam a verdadeiros ganhos qualitativos. De nada interessa, aos portugueses e ao país, se estatisticamente estivermos todos bem formados, mas, na realidade, nos mantivermos tão mal qualificados como nos encontrávamos antes da gigantesca encenação da governação socialista se ter iniciado há seis anos. Despejar dinheiro sem controlo, despejar cursos sem qualidade, despejar pressão política e mediática não é realizar uma política educativa.
O PS e António José Seguro não podem, para desgraça de todos nós, orgulhar-se da herança que nos deixaram, na Educação... e no resto.