sexta-feira, 24 de maio de 2013

Poemas

RUA INDUSTRIAL, DE DIA

Só paredes. Sem verde nem vidraça,
a rua estende a cintura malhada
das fachadas. Os carris sem zoada.
Brilha o asfalto molhado da praça.

Roça por ti alguém, um frio olhar
penetra-te a medula; passos duros
fazem saltar faíscas de altos muros
e fica a nuvem de um breve respirar.

Não há cela que aperte o pensamento
em gelo como este caminhar
entre muros, que só muros podem olhar.

Vistas tu penitência ou sacro paramento —:
Esmaga-te sempre o pesado sudário
do anátema divino: turno sem horário.

Paul Zech
(Trad.: João Barrento)