Uma história sobre um carpinteiro chinês.
Durante uma procissão, um homem cuja santidade e calmo domínio de si eram por todos reconhecidos, recebeu no nariz um salpico de gesso do tamanho de uma asa de mosca. Pediu a um carpinteiro que seguia ao seu lado que lhe tirasse o bocadinho de gesso.
O carpinteiro pegou no machado, fê-lo girar no ar — com tanta força que se ouviu o barulho — e tirou o bocado de gesso sem sequer tocar no nariz do santo homem.
E a procissão continuou.
Algum tempo depois, um príncipe, que tinha ouvido falar do acontecido, mandou chamar o carpinteiro e pediu-lhe que repetisse a sua demonstração de destreza.
O carpinteiro recusou.
O príncipe, irritado, perguntou as razões desta recua.
—É muito simples — disse o carpinteiro. — O homem que tinha o bocado de gesso no nariz tinha uma grande força de alma. Nem o mais pequeno estremecimento o percorreu quando baixei o meu machado. Onde encontrar, entre aqueles que te rodeiam, quem possa comportar-se do mesmo modo?
In Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema.