terça-feira, 30 de abril de 2013

Maio, dia um


Esta pintura de Tarsila do Amaral, intitulada Operários, apesar de ter sido pintada na década de trinta do século passado, para expressar a realidade social brasileira, tem, para nós portugueses, nos dias que agora vivemos, a mesma força e o mesmo sentido que teve há oitenta anos.
Estes rostos dolorosamente sérios, tristes, cansados, desprovidos de qualquer sinal de esperança interpelam e incomodam quem os observa. Olhares e faces que insinuam pertencer a mulheres e homens que angustiadamente vão sobrevivendo, sem mais.

Uma cópia desta tela deveria ser colocada no gabinete, em frente da secretária, de cada um dos ministros do actual governo. Esta realidade, de que alguns responsáveis deste executivo cobardemente se escondem e que outros arrogantemente desprezam, atinge quase todos os dias mais trabalhadores e novas famílias. O respeito que dizem ter pelo dia que hoje se comemora é tão cínico como o respeito que dizem ter por quem trabalha.
Se, por memória menos viva, ainda dúvidas houvesse acerca do incontornável conflito entre o mundo do trabalho e o mundo do capital, os acontecimento dos últimos anos não permitiriam que elas subsistissem. É, pois, intolerável ver alguns políticos proclamarem, durante um dia do ano, os direitos dos trabalhadores e, durante os restantes trezentos e sessenta e quatro dias, defenderem os interesses de quem é responsável pela existência de milhões de rostos como os de Tarsila do Amaral.