Nasreddin Hodjâ [uma personagem desconcertante presente em muitos contos e lendas do Médio Oriente], como de costume de barriga vazia, andava um dia pela rua de uma cidade quando ouviu, dentro de uma bela e rica residência, os ruídos calorosos, e muito atraentes, de uma festa. Apresentou-se e pediu para ser recebido para participar nos festejos, mas estava tão mal vestido que os dois guardas, brutalmente, lhe recusaram a entrada.
Nasreddin foi logo pedir emprestado a um amigo um caftã debruado a ouro. Envolto naquela peça de roupa de magnífica aparência, apresentou-se de novo à porta da casa e desta vez mandaram-no entrar com todas as honras.
Nasreddin instalou-se junto das travessas que acabavam de servir, agradecendo sempre educadamente. Então, com todo o cuidado, levantou um braço e deixou molhar a manga do seu belo caftã no molho de um prato.
Ao mesmo tempo, parecendo dirigir-se àquela mancha, dizia:
— Toma, come.
O dono da casa estranhou, ficou indignado e disse:
— Que fazes? Estás louco?
— De maneira nenhuma — respondeu Nasreddin. — Não sou eu o convidado, é o meu caftã. É normal que seja ele a comer.
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema.