O culto do eu, tão difundido, começa muitas vezes pelo denegrimento do próprio. Assim o mostra esta história judia contemporânea que se conta actualmente em Israel.
Três rabinos sentaram-se no banco de trás de um táxi. O primeiro suspira e diz:
— Quando pendo em Deus, vejo que não sou grande coisa.
O segundo rabino diz ao primeiro:
— Se tu não és grande coisa, então eu, que sou? Nada.
O terceiro rabino diz ao segundo:
— Se tu não és nada, então eu o que sou? Menos que nada! Estou abaixo de tudo!
O taxista volta-se nesse momento e diz:
— Mas se os senhores falam dessa maneira, se dizem que não são nada, então eu o que sou? Nem há palavras para me descrever! Não existo!
Os três rabinos olharam para ele e disseram:
— Mas o que é que ele tem a ver com isto?
Jean-Claude Carrière, Tertúlia de Mentirosos, Teorema (adaptado).