É interessante observar as reacções às crescentes críticas dirigidas às elites do nosso país. Membros da elite política, da elite financeira e da elite empresarial vêm a público revelar incomodidade e receio pelas acusações de que são alvo, no que diz respeito à atribuição de responsabilidades da crise em que vivemos. Consideram essas acusações injustas, injustificadas e oportunistas. Mas, na realidade, essas acusações não são injustas, não são injustificadas nem são oportunistas.
A verdade é que foi a elite política, concretamente as elites políticas do PS, do PSD e do CDS, que ao longo das últimas décadas nos têm governado, quem conduziu e mantém o país na situação de catástrofe económica e social. Sobre isto, não parece razoável levantar dúvidas. Há mais de três décadas que os líderes políticos com responsabilidades governativas foram e são destes três partidos; há mais de três décadas que as elites políticas que ocuparam e ocupam as cadeiras do poder foram e são destes três partidos; e há mais de três décadas que as elites que gravitam em torno dos gabinetes executivos e dos gabinetes legislativos, influenciando as decisões e as opções políticas, pertencem as estes três partidos.
As acusações dirigidas às elites políticas que nos têm governado são, pois, justas, justificadas e legítimas.
A elite financeira portuguesa usufruiu durante alguns anos da fama, e do correspondente proveito, de ser constituída por pessoas competentes e sérias, exemplos de excelência na gestão e de sobriedade social. Hoje verificamos, sem margem para dúvida razoável, que a fama e o proveito não tinham razão de ser.
O véu que cobria a incompetência, a desonestidade e a mediocridade desta elite financeira começou a romper-se com a revelação pública de tudo o que se passou no BCP. Hoje, o seu primeiro presidente do Conselho de Administração, Jardim Gonçalves, o seu sucessor e vários membros do conselho de administração estão impedidos de exercer funções de administração bancária e estão a responder em tribunal a diversas acusações. Por sua vez, a elite que geria o BPN é, no nosso país, pelos menos até agora, o exemplo do que de mais desonesto é possível imaginar na falcatrua financeira. A outra elite que geria o BPP conduziu o banco à ruína e está, neste momento, sob a alçada da Justiça. O presidente do conselho de administração do BES foi apanhado numa tentativa de fuga ao fisco. O presidente do BPI é um exemplo de desequilíbrio psicológico e de arrogância descontrolada.
Transversalmente todos são exemplos de incompetência: todos, aos quais se junta o Banif, tiveram de se recapitalizar, e quase todos com o dinheiro dos contribuintes; todos alimentaram sofregamente o endividamento público e privado, para acabarem hipocritamente a afirmar que os portugueses viveram acima das suas possibilidades.
Transversalmente todos são exemplos de incompetência: todos, aos quais se junta o Banif, tiveram de se recapitalizar, e quase todos com o dinheiro dos contribuintes; todos alimentaram sofregamente o endividamento público e privado, para acabarem hipocritamente a afirmar que os portugueses viveram acima das suas possibilidades.
As acusações dirigidas à elite financeira são, pois, justas, justificadas e legítimas.
A nossa elite empresarial é, numa percentagem muito significativa, ignorante, semi-analfabeta e carroceira. Durante anos, apenas pensou em duas coisas: como enriquecer rapidamente e como esbanjar rapidamente o que ganhou. Sobre isto também não parece haver lugar para dúvida razoável. Só uma percentagem quase ridícula da elite empresarial reinvestiu na modernização das empresas e na criação de condições dignas para os seus profissionais. Quando a crise chegou, estavam descapitalizadas e sem qualquer capacidade de reacção, quer financeira, quer competitiva. Agora declaram falência, despedem trabalhadores, vendem os Ferraris, os Mercedes, os montes e as casas. Todavia, isto significa que ainda têm algo para vender... Os desempregados não — porque grande parte da nossa elite empresarial sempre teve como critério de boa gestão o pagamento de salários miseráveis.
As acusações dirigidas à elite empresarial são, pois, justas, justificadas e legítimas.
Sobre a mediocridade das nossa elites, não parece razoável haver qualquer dúvida. Sobre a necessidade de retirarmos estas elites dos lugares que ocupam, parece já não haver a mínima dúvida.