sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Faltam 8 dias


É extraordinária a diferença entre o que se passa com os responsáveis directos pela situação em que o país está e o que se passa com todos os outros, isto é, com todos os portugueses que não tiveram nem têm responsabilidades na crise que vivemos.

Os responsáveis directos são, em primeiro lugar, os responsáveis políticos: o chefe e os membros dos dois últimos governos do PS e os deputados parlamentares que os sustentaram; o chefe e os membros do actual governo PSD-CDS e os deputados parlamentares que o sustentam. No primeiro conjunto, o dos ex-governantes e correligionários parlamentares, impressiona a arrogância com que publicamente opinam, impressiona a cada vez maior presença e o tempo que ocupam nos meios de comunicação social e impressiona o estatuto de inimputabilidade com que se auto-consideram. O desgraçado estado do país parece nada ter que ver com eles...

No segundo conjunto, o dos actuais governantes e correligionários parlamentares, impressiona a escandalosa falta de seriedade política, impressiona a inimaginável incompetência de que enfermam e impressiona a absoluta ausência de vergonha que revelam. O desgraçado estado do país também parece nada ter que ver com eles...

Um outro grupo de responsáveis directos por aquilo que estamos agora a passar é formado pelos líderes e por toda a nossa elite financeira. BCP, BPI e BES, financiaram e incentivaram até ao limite do inconcebível a dívida pública e financiaram e incentivaram descaradamente a dívida privada, que agora dizem ser excessiva. A isto acresce a monstruosa vigarice financeira que parte dessa elite promoveu no BPN (e no BPP), e que todos estamos a pagar. 
Contudo, os ex-presidentes e actuais presidentes dos conselhos de administração do BCP, do BPI, do BES falam publicamente como se nada do que se passou e passa no país tivesse que ver com eles. Têm até o atrevimento de, com insolência, fazer exigências quanto à capacidade de sofrimento dos portugueses. Ou de, sem sombra de envergonhamento, tentarem fugas ao fisco de milhões de euros.

Da vigarice financeira realizada no BPN, sabemos apenas que o seu ex-presidente está confortavelmente sob prisão domiciliária e conseguimos recordar-nos de como se sentiu divertido no momento em foi inquirido no parlamento. Dos restantes acusados sabemos que pouco ou nada lhes sucedeu. Todavia, soubemos há semanas pelo Expresso que alguns dos responsáveis do BPN (já condenados pelo Banco de Portugal) foram premiados com cargos de direcção na empresa pública Parvalorem, precisamente a empresa criado pelo Estado para procurar recuperar os muitos milhões de euros em dívida ao banco nacionalizado. Três exemplos:
— Armando Pinto, ex-director do departamento jurídico e ex-administrador do BPN, foi condenado pelo Banco de Portugal a uma multa de 200 mil euros e ficou proibido de trabalhar em instituições financeiras durante cinco anos, é agora director da Parvalorem; 
— Gabriel Rothes, ex-administrador do BPN, foi condenado pelo Banco de Portugal a uma multa de 175 mil euros e ficou proibido de trabalhar em instituições financeiras durante três anos, é agora director da Parvalorem; 
— Jorge Rodrigues, ex-director do BPN, foi condenado pelo Banco de Portugal a uma multa de 350 mil euros e ficou proibido de trabalhar em instituições financeiras durante cinco anos, é agora director da Parvalorem.

Todos estes, dos políticos aos financeiros, são responsáveis directos pela situação em que vivemos, todavia, para além da impunidade de que gozam, alguns são ainda objecto de premiação. 
Em contrapartida, os portugueses que não dirigiram o país, nem política nem financeiramente, que não tiveram nem têm responsabilidades na crise em que nos encontramos, são despedidos e atirados para o empobrecimento irreversível ou são objecto de brutais penalizações nas pensões, nos vencimentos e nos impostos. E são acusados de terem vivido acima das suas possibilidades.

Esta diferença de tratamento é insuportável e tem de lhe ser colocado um fim. A realidade tem de ser virado ao contrário. O próximo dia 2 de Março poderá marcar o princípio dessa viragem.