A propósito da sui generis greve dos patrões da camionagem, algumas notas soltas:
1. Por onde andaram as famosas e mui propaladas determinação e inflexibilidade do primeiro-ministro nos dias da greve dos patrões da camionagem? E a permanente arrogância com que nos mimoseava quase quotidianamente? E a coragem para enfrentar situações difíceis de que era supostamente possuído?
Parece que as exaustivamente propagandeadas força, determinação, inflexibilidade, e outras pretensas qualidades do género, do primeiro-ministro, de repente, foram-se, esvaíram-se, levaram sumiço.
De facto, é fácil ser determinado e inflexível quando se tem a almofada de uma maioria absoluta e se está a dois, a três ou a quatro anos de eleições. Mas quando se está a pouco mais de um ano das ditas, a situação muda radicalmente, e aquilo que era coragem, que era determinação, que era inflexibilidade dá lugar ao discurso delico-doce, onde começam a aparecer, como cogumelos, outros vocábulos, tais como: «diálogo», «tolerância», «compreensão» e, até, «humildade» (os milagres, afinal, existem).
Em definitivo, já não há lugar para dúvidas quanto à veracidade da afirmação que lhe é dirigida: forte com os fracos e fraco com os fortes.
2. Em pleno assalto e bloqueio das estradas portuguesas o ministro da Administração Interna andava alegremente pelo estrangeiro, como se a situação não tivesse nada que ver com ele.
3. Por onde tem andado o ministro das Finanças? Em outras ocasiões, tão pronto a aparecer em frente das câmaras, agora, que os patrões grevistas reclamavam regalias que entravam no bolso dos contribuintes, já não se voluntariou para falar? O assunto da isenção ou da redução de impostos deixou de ser da sua competência?
4. Os partidos da chamada direita, normalmente tão lestos a defender a ordem e a disciplina, quedaram-se, no decurso da crise, em afirmações inócuas ou em afirmações complacentes para com os desordeiros. Os partidos da chamada esquerda, normalmente tão céleres a condenar qualquer greve de patrões por ser inconstitucional, desta vez, apenas comentavam a actuação do governo, mas nada de importante relativamente ao patronato grevista.
Isto é, a substância dos problemas a ninguém importa, o que importa são os jogos de poder e de contra-poder.
Também foi isso que prevaleceu na posição de todos os partidos, sem excepção, em relação ao memorando de entendimento assinado entre o ME e os sindicatos.
5. Assegurar a liberdade de circulação para quem queria circular? Porque é que isso haveria de ser feito?!
Estado de direito? Qu’est-ce que c’est?!
Havia piquetes de greve que apedrejavam quem não obedecia à vontade dos patrões grevistas? Qual é o problema?!
E se os restantes portugueses também se virassem à pedrada aos camionistas? Qual era o problema?! Nenhum! O governo entrava como árbitro e era uma intifada à portuguesa, com certeza.
6. Mas, pensando bem, eu estou a ser injusto, porque a culpa de tudo isto é, de certeza, dos governos anteriores...
1. Por onde andaram as famosas e mui propaladas determinação e inflexibilidade do primeiro-ministro nos dias da greve dos patrões da camionagem? E a permanente arrogância com que nos mimoseava quase quotidianamente? E a coragem para enfrentar situações difíceis de que era supostamente possuído?
Parece que as exaustivamente propagandeadas força, determinação, inflexibilidade, e outras pretensas qualidades do género, do primeiro-ministro, de repente, foram-se, esvaíram-se, levaram sumiço.
De facto, é fácil ser determinado e inflexível quando se tem a almofada de uma maioria absoluta e se está a dois, a três ou a quatro anos de eleições. Mas quando se está a pouco mais de um ano das ditas, a situação muda radicalmente, e aquilo que era coragem, que era determinação, que era inflexibilidade dá lugar ao discurso delico-doce, onde começam a aparecer, como cogumelos, outros vocábulos, tais como: «diálogo», «tolerância», «compreensão» e, até, «humildade» (os milagres, afinal, existem).
Em definitivo, já não há lugar para dúvidas quanto à veracidade da afirmação que lhe é dirigida: forte com os fracos e fraco com os fortes.
2. Em pleno assalto e bloqueio das estradas portuguesas o ministro da Administração Interna andava alegremente pelo estrangeiro, como se a situação não tivesse nada que ver com ele.
3. Por onde tem andado o ministro das Finanças? Em outras ocasiões, tão pronto a aparecer em frente das câmaras, agora, que os patrões grevistas reclamavam regalias que entravam no bolso dos contribuintes, já não se voluntariou para falar? O assunto da isenção ou da redução de impostos deixou de ser da sua competência?
4. Os partidos da chamada direita, normalmente tão lestos a defender a ordem e a disciplina, quedaram-se, no decurso da crise, em afirmações inócuas ou em afirmações complacentes para com os desordeiros. Os partidos da chamada esquerda, normalmente tão céleres a condenar qualquer greve de patrões por ser inconstitucional, desta vez, apenas comentavam a actuação do governo, mas nada de importante relativamente ao patronato grevista.
Isto é, a substância dos problemas a ninguém importa, o que importa são os jogos de poder e de contra-poder.
Também foi isso que prevaleceu na posição de todos os partidos, sem excepção, em relação ao memorando de entendimento assinado entre o ME e os sindicatos.
5. Assegurar a liberdade de circulação para quem queria circular? Porque é que isso haveria de ser feito?!
Estado de direito? Qu’est-ce que c’est?!
Havia piquetes de greve que apedrejavam quem não obedecia à vontade dos patrões grevistas? Qual é o problema?!
E se os restantes portugueses também se virassem à pedrada aos camionistas? Qual era o problema?! Nenhum! O governo entrava como árbitro e era uma intifada à portuguesa, com certeza.
6. Mas, pensando bem, eu estou a ser injusto, porque a culpa de tudo isto é, de certeza, dos governos anteriores...