segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Regressar

Uma conhecida afirmação de Nelson Mandela diz que: «não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.»
Provavelmente a sedução desta frase estará no contraditório jogo psicológico e estético das imagens que as palavras sugerem e simultaneamente na fidelidade do seu conteúdo. Na realidade, no decurso da vida, muitas pessoas já passaram, certamente que várias vezes, pela experiência que Mandela refere. Mas o líder sul-africano esqueceu-se dos portugueses e de Portugal. A verdade é que nós, enquanto portugueses, temos razões para contrariar a observação do líder sul-africano. De facto, regressar hoje a Portugal, depois de uns dias de férias, é regressar a um lugar que, para nossa infelicidade, está exactamente igual àquele que deixámos, todavia, o regresso a este lugar, que está igual, não nos faz descobrir, ao invés do que diz Mandela, que mudámos. Pelo contrário, descobrimos que, apesar do sítio (o país) estar igual, não temos outro remédio que não seja mantermos e reforçarmos a contestação ao que desgraçadamente se mantém igual. A afirmação de Mandela é bonita, mas não se aplica aos portugueses e a Portugal.

Regressar à nossa realidade é penoso. Dói ler as notícias, saber o que se passou e está a passar, constatar que os piores cenários de desemprego, de precariedade e de miserabilização se concretizam, confirmar que as nossa elites políticas e empresariais continuam a afundar o país e que nada de positivo se desenha no horizonte.
É muito mau sinal que o primeiro sentimento de quem regressa seja o de querer voltar a partir.