Há pouco mais de um ano, Nuno Crato criticava a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) — ainda que o fizesse de modo insuficientemente fundamentado, era uma crítica a algo que manifestamente devia ser criticado: da concepção à concretização, a INO foi uma colossal soma de erros técnicos e de oportunismos políticos.
Pouco tempo depois de tomar posse como ministro da Educação e Ciência, em Junho de 2011, Crato mandou, atabalhoadamente, suspender a abertura de novas turmas dos cursos EFA da INO. Cerca de três meses decorridos, sem saber bem o que fazia nem o que fazer, suspendeu a suspensão e autorizou a abertura de novas turmas daqueles cursos. Incompreensivelmente, aconteceu que, durante algumas semanas, houve professores que queriam leccionar e não tinham alunos, e houve alunos, já matriculados, que queriam frequentar as aulas, mas não podiam porque o ministério não deixava. Neste espaço de tempo, a desorientação foi completa, toda a gente andou a perder tempo, e o país, salvo in extremis da bancarrota, dava-se ao luxo de esbanjar dinheiro.
Erros de principiante? Não, não são erros de principiante. São erros de quem critica sem previamente realizar um estudo sério e rigoroso que sustente a crítica e que o capacite a saber o que fazer no caso de assumir responsabilidades políticas. Nesta matéria, como em quase todas, Crato não estava preparado para ser ministro da Educação.
Volvido um ano, podemos dizer, aliviados, que Nuno Crato já se preparou minimamente, já sabe o que anda a fazer e para onde quer ir? Por exemplo, no caso concreto da INO, passados catorze meses, já há uma alternativa projectada e devidamente sustentada? Não há. Ou melhor, há um colossal vazio.
Há um colossal vazio e há uma tremenda confusão com os Centros Novas Oportunidades cujo encerramento foi primeiramente anunciado, segundamente prorrogado o seu funcionamento até Dezembro deste ano e terceiramente encerrados uns e mantidos abertos outros até clarificação anunciada para daqui a uns meses.
Há um colossal vazio e há uma (pseudo) avaliação da INO, mandada realizar por Nuno Crato. Em lugar de ordenar uma avaliação à qualidade da formação ministrada e à qualidade da formação recebida, Crato pediu que fosse feita uma avaliação ao grau de empregabilidade que os cursos da INO proporcionavam. Mais uma vez perdeu-se tempo e dinheiro para ficarmos a saber o que já sabíamos antes da avaliação ser feita.
Finalmente, há um colossal vazio e há a manutenção de parte daquilo que se criticava de forma feroz: os cursos EFA de dupla certificação, por sinal, os culturalmente mais pobres. Misteriosamente, porque nada foi alterado, desapareceram as críticas ao facilitismo, à distribuição de diplomas de ignorância, à certificação da incompetência e outros conhecidos epítetos dirigidos à INO.
No final do ano lectivo 2012-2013, contar-se-ão dois anos de governação do PSD/CDS — e, em particular, de Nuno Crato — em que foi dada alegre continuidade a algo — INO — que era apresentado como monstruoso.
Como já escrevi neste blogue, a INO é, na minha opinião, um erro técnico grave e uma intolerável obscenidade política — mantê-la será, por isso, incompreensível e inaceitável. Mas mais incompreensível e inaceitável é o facto de que a manutenção desta situação seja da responsabilidade precisamente de quem do modo mais grosseiro e acutilante se pronunciou contra este modelo de formação de adultos.