Ouve-se dizer com alguma frequência que uma das qualidades de Passos Coelho é a sua honestidade política, a sua franqueza, a sua capacidade de dizer a verdade aos portugueses. Sempre que oiço isto, da boca de políticos e de comentadores, fico perplexo. Se há coisa que eu acho é o oposto: Passos Coelho é um político desonesto. Aliás não vislumbro de onde lhe vem aquela boa fama.
Para não recuar muito no tempo, o primeiro episódio que, na história mais recente do líder do PSD, mostrou os pouco exigentes critérios éticos que utiliza consigo próprio na acção política foi o comportamento que teve com Santana Castilho. Depois de meses de pública sintonia com este professor, de trabalho conjunto com vista à elaboração do programa eleitoral do PSD sobre Educação, depois de prefaciar, apresentar e tecer rasgados elogios ao livro O Ensino Passado a Limpo e ao seu autor, Passos Coelho verga-se à pressão dos lóbis internos do partido e renegando tudo o que tinha dito e feito, foge e desaparece, sem explicação, dessa relação de trabalho político.
A seguir a isto, e ainda antes de vencer as eleições, veio uma série indeterminada de desonestidades políticas que são conhecidas de todos: a promessa, feita a uma criança, de que nunca tiraria os subsídios de férias e de Natal a ninguém; a promessa de que nunca baixaria os salários a nenhum trabalhador, porque, em caso de necessidade, seria mais justo subir os impostos sobre o consumo; a promessa de que acabaria de imediato com a monstruosidade kafkiana, que era a (pseudo) avaliação do desempenho dos professores, da responsabilidade de Sócrates e Rodrigues; a promessa de que acabaria ou alteraria radicalmente a Iniciativa Novas Oportunidades (baluarte do oportunismo político de Sócrates); a promessa de que nunca subiria os impostos, sem acabar primeiro com as gorduras do Estado; a promessa de que nunca se desculparia com o passado para justificar a sua política, se viesse a ser governo; a promessa de que nunca se desculparia com o desconhecimento sobre o estado em que as finanças se encontrava; etc., etc.
Nenhuma destas promessas foi cumprida. Nem uma. Isto tem um nome: desonestidade política. Passos Coelho venceu as eleições porque assumiu compromissos políticos que a maioria eleitoral dos portugueses sufragou. Passos Coelho não deu cumprimento a esses compromissos. Passos Coelho venceu as eleições com um programa político que jurou cumprir. Não o cumpriu. Isto é desonestidade política. Desonestidade que mina o alicerce fundamental da democracia: a confiança entre eleitor e eleito. Passos Coelho deu um contributo decisivo para destruir esse alicerce.
Também é desonestidade política dizer, umas vezes, que não é a contragosto que cumpre o Memorando de Entendimento, acrescentando que quer mesmo ir mais longe do que aquilo que nele está determinado; e, outras vezes, dizer que não é da sua responsabilidade a política que está a ser seguida, que a responsabilidade é do governo anterior que assinou o Memorando de Entendimento. Esta cínica duplicidade é desonestidade política.
O rol de exemplos é enorme. Desgraçadamente para todos nós, Passos Coelho é politicamente desonesto e faz dessa desonestidade um padrão de conduta.
O rol de exemplos é enorme. Desgraçadamente para todos nós, Passos Coelho é politicamente desonesto e faz dessa desonestidade um padrão de conduta.