1. A recente aprovação do Orçamento Geral do Estado para o ano 2012 erigiu em lei a escandalosa depradação de dois meses de salários aos profissionais do Estado e de empresas públicas e dois meses de pensões aos reformados e pensionistas. Para além do generalizado aumento dos impostos de que todos sofrerão as consequências, aqueles trabalhadores e pensionistas serão objecto de uma especial penalização, sem que até hoje se conheça uma justificação plausível para o facto.
Ninguém consegue explicar por que razão o ano de 2012 é, para uns, o ano de todos os sacrifícios e, para outros, o ano em que os rendimentos sobem. Na verdade, quem pertence ao sector privado terá um aumento nos seus rendimentos, porque, em 2012, não só não é abrangido pelo corte de dois salários como ficará isento da taxa que este ano paga (em sede de IRS) sobre o subsídio de Natal. No privado, os rendimentos, em 2012, serão, pois, superiores aos rendimentos de 2011. Enquanto, no sector público, os cortes rondam os 23% dos vencimentos líquidos, de milhares de funcionários.
A responsabilidade desta iniquidade é de quem governa o país com absoluta indiferença em relação às pessoas e com a obsessão ideológica de atacar o sector público.
A responsabilidade desta iniquidade é de quem governa o país com absoluta indiferença em relação às pessoas e com a obsessão ideológica de atacar o sector público.
2. A desonestidade política de Passos Coelho constitui uma outra marca de água da sua governação. A juntar a tantas «malabarices» que já fez, em menos de meio ano de poder, soube-se, agora, durante o fim-de-semana, que surgiram 2 mil milhões de euros a mais, nas contas do Estado. Estes módicos 2 mil milhões vão permitir duas coisas, segundo o primeiro-ministro: alcançar um défice substancialmente abaixo dos 5,9% prometidos à troika e pagar dívidas a fornecedores do Estado.
Deste dinheiro, Passos Coelho nunca falou, apesar de saber que o iria receber, porque já há muito que estava em negociação com os bancos a transferência dos seus fundos de pensões para os cofres do Estado. Deste dinheiro, Passos Coelho nunca falou, mas soube falar de um alegado desvio colossal, desvio colossal cujo montante foi variando consoante os gostos e as necessidades que a desonestidade política exigia. E exigia para quê? Para poder subtrair quase 50% do subsídio de Natal aos portugueses, apesar de saber que iria ter um excedente de milhões, e apesar de ter prometido que nunca mexeria no subsídio de Natal de ninguém.
Passos Coelho engana os portugueses como Sócrates o fazia.