segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mais facilitismo

Soubemos, pela comunicação social, que a directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, considerou que seria «útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média», e concluiu: «os alunos têm direito a ter sucesso» (Público, 28/06/008).
A tentativa de esclarecimento desta orientação veio, depois, por intermédio do presidente do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional, do Ministério da Educação): «A mensagem que se pretende passar é que os professores designados para ver os exames devem cumprir rigorosamente os critério de classificação emanados do Gave. Não é só para os que dão notas baixas mas também para os que dão notas altas» (Público, 28/06/08).
A ser verdade que a responsável da DREN disse o que lhe é atribuído, o esforço do presidente do Gave, para dotar de seriedade essas afirmações, foi inútil. Foi inútil porque as palavras finais de Margarida Moreira foram claras: «os alunos têm direito a ter sucesso». Ora, isto significa que aquilo que verdadeiramente preocupa esta directora regional não é o cumprimento rigoroso dos critérios de classificação do Gave e, muito menos, o conjunto os professores que dão notas mais altas que a média, porque, essas, como é óbvio, não põem em perigo o tal «sucesso a que todos têm direito» (ao que parece, independentemente do trabalho desenvolvido); o que a preocupa é, exclusivamente, o conjunto de classificações inferiores à média, aquelas classificações que estragam as estatísticas, que borram a pintura, que dão uma imagem indesejável. Esse é que é o problema, o problema nada tem que ver com rigor. Pelo contrário!
A gigantesca campanha em prol do facilitismo e do sucesso estatístico a qualquer preço avança, como se vê, com recurso a todos e quaisquer meios (novo Estatuto do Aluno, exames cada vez mais com níveis inferiores de dificuldade, afastamento dos correctores mais exigentes, etc., etc.). Agora, de um modo simplesmente administrativo, e com uma só medida, alcançam-se dois objectivos:
1. Elimina-se a exigência com o afastamento dos professores que a aplicavam;
2. Automaticamente, sobe-se a média das classificações, que é isso que verdadeiramente interessa à ministra da Educação e ao Governo do engenheiro José Sócrates.
Convém lembrar que, a continuar assim, no próximo ano, serão os professores que actualmente estão dentro da média que serão afastados, porque, entretanto, a média sobe, devido à eliminação das classificações dos professores mais exigentes. Isto é, a breve prazo, só corrigirão exames os professores que têm dado classificações muito acima da média (mas que, no futuro, constituirão, essas mesmas classificações, a média desejada e saudada pelo Ministério como sendo aquela que respeita o «direito ao sucesso» de todos os alunos).

Há muitos anos, dizia Sttau Monteiro que a relação dos portugueses com Portugal passava (salvo o erro) por quatro fases: a primeira fase era a da estupefacção, a segunda a da indignação, a terceira a da resignação e a quarta a da emigração.
Pela minha parte, encontro-me num estádio adiantadíssimo da segunda, e como não me dou com a terceira...

domingo, 29 de junho de 2008

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.

Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

sábado, 28 de junho de 2008

Pensamentos de sábado

«Uma pessoa competente é aquela que comete erros de acordo com as regras.»
Paul Valéry

«Claro que Deus me irá perdoar. É a profissão dele.»
Heinrich Heine

«Um especialista é um indivíduo que sabe mais e mais acerca de menos e menos, e no fim sabe tudo acerca de nada.»
William Mayo

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O estado a que isto chegou!

Títulos do Diário de Notícias (26/06/08):
Parte I
«Polícias compram fardas na candonga.»
«As equipas velocipédicas da PSP estão com um problema: se as bicicletas se avariam têm de ser os polícias a arranjá-las por sua própria conta[...] Os comandantes das divisões dizem que não têm dinheiro.»
«Subsídio para fardas há 20 anos congelado. Polícias recorrem ao endividamento por causa da farda.»
«Sem direito a horário nem a greve, as forças de segurança gozavam de uma boa assistência na saúde que o governo retirou ao familiares»

Parte II
«Sete Universidades em risco de colapso financeiro.»
«100 milhões de euros reclamados pelas universidades para suprir descontos para a Caixa Geral de Aposentações.»
Resposta do ministro das Finanças:
«Não pensem [os reitores das instituições] que basta no fim do dia apresentar a conta ao Ministério.»

É vergonhoso ler notícias deste género nos nossos jornais. Todos os dias somos confrontados com os inúmeros buracos que o manto do marketing governamental pretende ocultar. Anuncia-se a distribuição de computadores a pontapé e não há dinheiro para as fardas, anuncia-se o gasto de milhões no TGV Lisboa-Porto (que ninguém explica qual a utilidade e o interesse do mesmo) e não há dinheiro para arranjar as bicicletas dos polícias ou para as Universidades. Até hoje, foram três anos a aumentar impostos, a cortar em direitos sociais e em despesas essenciais, para, agora, se anunciarem obras faraónicas. A juntar a este desgoverno, vem o ministro das Finanças responder com grosseria e arrogância desmedidas.
Dizia, hoje, um simpático aposentado, na mesa do café ao lado da minha, a comentar o aumento dos impostos e a infindável lista de cortes nos direitos sociais: «Pois, assim, também eu! Eles baixaram o défice para mais de metade? Está bem, mas, assim, também eu! Olhò caneco! Se, em minha casa, passarmos a comer metade das refeições, passarmos a deixar de ir ao médico, passarmos metade da semana com a luz apagada, passarmos a tomar banho uma vez por semana, assim, até a minha reforma vai sobrar! Deixo de ter défice em casa! Olhò caneco! No tempo da outra «senhora» também não havia défice, mas o povo vivia na miséria. Assim, também eu! Olhò caneco!»
Olhò caneco!, dizemos todos, meu amigo.

Tiro-lhe o chapéu

Boas notícias: más notícias

«Parece que somos os mais pessimistas da Europa. Até que enfim, ocupamos um lugar relevante em lucidez. Fico feliz por acertarmos na análise. Aliás, só ficava mais feliz se errássemos. Só há 15 por cento de portugueses a acreditar que a sua vida vai melhorar no próximo ano. Coitados, devem ter batido mesmo no fundo. E, atenção, o Eurobarómetro não me ouviu. À pergunta "acha que vai piorar?", eu responderia: não. Acho que vai piorar muito, antes de começar a piorar, mesmo. Mas faço um balanço optimista deste pessimismo. Ainda há dias havia portugueses camionistas suficientemente optimistas para acreditar que nós tínhamos trocos para lhes alimentar o desgoverno nos negócios. Ainda há dias houve um Governo que lhes amparou a ilusão. E, agora, eis-nos lúcidos. É bom. É bom sabermos que isto, estando mau, está mau. Mas, atenção, não vale correr às agências de férias a esgotar as viagens. Isso indicia um pessimismo exagerado, de quem suspeita que para o ano já não há.»
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias (25/06/08)

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Assim vai a Educação em Portugal

Subsídios de férias pagos com dinheiro de investigação
«A Universidade de Aveiro vai pagar os subsídios de férias de funcionários e professores com parte do dinheiro que se destinava à investigação. A decisão está a ser anunciada em reuniões dos departamentos deste estabelecimento de ensino.
A Universidade de Aveiro vai desviar 3,8 milhões de euros afectos à investigação para pagar os subsídios de férias a funcionários e professores, confirmaram várias fontes deste estabelecimento de ensino à TSF.
Este corte na investigação afecta todos os departamentos da universidade e é em reuniões de todos estes departamentos que um grupo restrito de pessoas está a ser informada que a universidade tem outras prioridades para estas verbas.
Apesar de o Governo admitir que mais universidades podem cair nesta situação, o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, já confirmou que apenas quatro universidades vão receber verbas suplementares e que Aveiro não está no grupo.
Na base da decisão de a Universidade de Aveiro não receber verbas suplementares está o facto deste estabelecimento de ensino conseguir gerar receitas devido ao trabalho científico que desenvolve e que é financiado por instituições externas.
A decisão de pagar os subsídios de férias com parte do dinheiro destinado à investigação surge após uma deliberação da Secção de Gestão e Planeamento do Senado da universidade.
Contactada pela TSF, a reitoria da Universidade de Aveiro nega a existência destas reuniões em que foi comunicada esta decisão, mas várias outras fontes confirmam estes encontros.»
Sítio da TSF (25/6/08)

Edith Piaf

terça-feira, 24 de junho de 2008

Sem comentários

Ministra desvaloriza críticas sobre exames
«A ministra da Educação desvalorizou, esta terça-feira, as críticas feitas pela Sociedade Portuguesa de Matemática e Química aos exames das duas disciplinas, considerando que só servem para alarmar as famílias.
A ministra da Educação desvaloriza as críticas feitas pela Sociedade Portuguesa de Química e de Matemática sobre as provas de avaliação das duas disciplinas.
Maria de Lurdes Rodrigues rejeita a acusação de que as provas foram "demasiado fáceis", lamentando que se tenha causado uma preocupação desnecessária junto das famílias dos alunos.
"Até podem ter um Prémio Nobel, podem ser peritos numa área de especialidade, mas muito dificilmente se podem pronunciar sobre o nível de dificuldade de uma prova", argumentou.
"O nível de complexidade de uma prova requer testes estatísticos, procedimentos técnicos que não são compatíveis com a espontaneidade de quem se pronuncia antes, no momento, ou pouco tempo depois da prova", argumentou.»
Sítio da TSF (24/06/08)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

E viva a estatística! Exames de Matemática A e B considerados demasiado fáceis.

«A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) criticou hoje a “excessiva facilidade” do Exame Nacional de matemática B, hoje realizado, juntando-se assim às opiniões já hoje divulgadas sobre os conteúdos do exame de matemática A e de química.

"O teste peca por omitir completamente conteúdos programáticos importantes, como a Estatística, a Geometria Analítica ou a Programação Linear e por ser excessivamente fácil”, diz, em comunicado, a SPM, que diz que a prova “está perfeitamente ao alcance de um aluno do sétimo ano de escolaridade”, referindo-se ao grupo mais cotado, com 20 pontos.»
Sítio do Público (23/06/08)

Notícias como esta têm-se multiplicado nos últimos dias e ir-se-ão multiplicar ainda mais no decorrer dos próximos meses. Notícias sobre o facilitismo têm sido muitas e, no futuro próximo, serão muitas mais.
E, daqui a um ano, vamos todos assistir a uma avalanche de resultados estatísticos. Daqui a um ano, vamos todos ouvir, repetidamente, insistentemente e desavergonhadamente, números e mais números acerca do imenso, do enorme, do milagroso sucesso educativo em todas as frentes possíveis e imaginárias.
Desde o 1º ciclo ao 12º ano, tudo será um infindável oceano de resultados nunca vistos: óptimas taxas de aprovação em todos os níveis de ensino; superlativos resultados de exames nacionais do 9º, 11º e 12º anos; certificações de competências a anunciar que milhares e milhares de portugueses com mais de 18 anos concluíram o 9º ano de escolaridade e que outros tantos milhares e milhares concluíram o 12º ano. Saberemos também que outros tantos milhares e milhares fizeram cursos profissionais e que ficaram extraordinariamente preparados para a vida activa, e que milhares e milhares de jovens e não jovens, homens, mulheres e crianças passaram a dominar a informática como ninguém e que passámos a estar no top do desenvolvimento tecnológico, no top do acesso à Internet, no top de tudo e mais alguma coisa.
Daqui a uma ano, o milagre das rosas ou o milagre da multiplicação dos pães nada serão, comparados com o milagre português da multiplicação dos resultados estatísticos.

Mas depois desse ano, depois da festa, depois da orgia de números, depois das eleições, a realidade abater-se-á sobre todos nós, e iremos perceber, gradual, vagarosa e dolorosamente, que, como diz a canção, houve, aqui, alguém que se enganou, houve, aqui, alguém que nos enganou...

domingo, 22 de junho de 2008

Pensamentos de domingo

«A dança é uma expressão vertical para um desejo horizontal.»
Anónimo

«Um actor é um gajo que não ouve se não falares acerca dele.»
Marlon Brando

«Não me importo que me caluniem, desde que falem de mim...»
Sarah Bernhardt

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos

«Caos é sempre que um camionista quiser»

«O mundo, percebemo-lo esta semana, está nas mãos dos camionistas. A mesma sociedade que coloca uma sonda em Marte paralisa se os camionistas se chateiam. A era da tecnologia, da Internet, dos arranha-céus e da conquista do espaço não pode nada contra os profissionais da camionagem. [...] A humanidade inventa máquinas, constrói pontes e escreve poesia, mas os camionistas atiram pedras — e aquilo aleija.
[...] O homem mais poderoso de Portugal é o Cajó, que conduz um Scania de 12 rodados. Se o Cajó acordar maldisposto, isto descamba.»

Ricardo Araújo Pereira, Visão (19/6/08)

Vai um passeio de comboio?

Vai um passeio de comboio entre a Régua e o Tua, movido por uma locomotiva Henschel?
Se sim, clique aqui

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Relembramos

Relembramos o que já anunciámos há uns dias: amanhã, dia 21 de Junho, realiza-se um debate público subordinado ao tema: Avaliação de professores: esta não! Mas qual?
Este debate tem a participação de Olga Pombo, Paulo Guinote, João Paulo Videira e Manuel António Silva.
Hora: 15,30h.
Local: Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia 95, Lisboa.
Organização: Movimento Escola Pública

«O Ministério está a fazer pressão para os professores subirem as notas»

Sábado: Porque é que diz que as provas de matemática são «ridiculamente simples»?
Nuno Crato:Algumas provas de matemática têm tido um número exagerado de questões demasiado fáceis, algumas ridiculamente simples, atendendo a que os alunos podem usar calculadora. Isso não é certamente um incentivo ao estudo. Nem constitui um apoio aos professores mais rigorosos, que têm feito um esforço muito grande para que os alunos progridam como devem e dominem bem os conceitos, os algoritmos e as técnicas essenciais.

Sábado: Pedro Feytor Pinto diz que há facilitismo no ensino.
Nuno Crato: A Sociedade Portuguesa de Matemática anda a dizê-lo há muitos anos. São as orientações que os teóricos da educação contratados pelo Ministério têm imprimido ao ensino. Mas talvez o mais grave nos exames seja o facto de todos os anos os conteúdos e os critérios mudarem. Este ano, os exames têm mais tempo; já no ano passado houve mais meia hora no 12º ano. Os exames não são comparáveis de ano para ano. Se nos exames deste ano se obtiverem melhores resultados, ninguém sabe o que isso significa.
Excertos da entrevista de Nuno Crato à revista Sábado (19/6/08)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

«São um erro» - parte II

Ao lacónico comentário «são um erro» (referindo-se às criticas feitas à prova de Português do 12º ano) a ministra acrescentou, agora, o seguinte: «Alguns peritos, algumas associações tiveram problemas com os exames. Não são capazes de os resolver ou consideram que são demasiado fáceis. É um problema desses peritos e não do Ministério da Educação, das escolas ou alunos.»
8 de Março distante, 100 mil professores recolhidos, Memorando assinado, arrogância de volta.

Inacreditável

Conforme vem noticiado no Público de hoje, o comissário irlandês, Charlie McCreey, responsável pela pasta do Mercado, afirmou não ter lido o Tratado de Lisboa porque «ninguém são de espírito» o conseguiria ler. Ora, se quem ler aquele Tratado é louco, quem o elaborou, certamente, não terá adjectivação inferior.
Mais, Brian Cowen, o primeiro-ministro irlandês também comentou que não tinha lido o Tratado, isto é, o Tratado que, solenemente, ele assinou.
Agora, vamos lá saber: dos vinte e sete líderes que assinaram o Tratado, quem mais não o leu?! Por exemplo, o nosso primeiro-ministro leu-o? Se leu, é insano, do ponto de vista do comissário europeu irlandês, se não leu, mentiu-nos.
Seja como fôr, eles (alguns, pelo menos) não lêem o Tratado, mas fazem de conta que o lêem e assinam-no sem o lerem e dizem muito bem dele sem o lerem e dizem que ele é fundamental para a Europa sem o lerem e dizem que a sua assinatura foi uma grande vitória da Europa sem o lerem e dizem que ele deve ser aprovado sem o lerem.
Pior é difícil.

Da Amnistia Internacional-Guantánamo

Carta da Amnistia Internacional:

Caros Amigos

Gostaríamos de partilhar convosco um sucesso, uma boa notícia, que resulta do trabalho empenhado e activo dos membros e apoiantes da AI Portugal.

Numa decisão sem precedentes, o Supremo Tribunal dos Estados Unidos e contra a posição oficial da administração Bush, decretou o direito dos detidos em Guantánamo de, ao abrigo da Constituição dos Estados Unidos da América, terem acesso aos tribunais civis para avaliação da legalidade da sua detenção (habeas corpus).
Esta decisão constitui um marco histórico no sentido da restauração da supremacia da lei no âmbito das medidas de combate ao terrorismo.

Desde a sua criação, a AI foi uma das organizações que mais lutou para que Guantánamo fosse encerrada e para que os direitos dos detidos fossem respeitados.
Seis anos depois e graças ao trabalho de denúncia e pressão das secções da AI e dos seus mais de dois milhões de membros e apoiantes, dos quais você faz parte, vemos uma decisão que reforça a nossa luta e pode significar o princípio do fim do centro de detenção.

Estamos todos de parabéns.

Que esta decisão sirva de incentivo para que, com a sua ajuda e participação, continuarmos o trabalho de tornar os Direitos Humanos para todos uma realidade.

Um abraço

Amnistia Internacional Portugal
Telf: 21 386 16 52
Fax: 21 386 17 82
e-mail: aiportugal@amnistia-internacional.pt

Visite o nosso website em www.amnistia-internacional.pt

quarta-feira, 18 de junho de 2008

O futuro promete...

Ema é o nome da primeira robô sensual.
Curvilínea, beijoqueira, dançarina e cantora, a Ema promete seduzir. As mulheres que se acautelem...
Para conhecer a Ema, clique aqui

«São um erro» e ponto final

Às críticas que a Associação de Professores de Português dirigiu ao exame nacional do 12º ano da disciplina, a ministra da Educação respondeu: «são um erro» (as críticas, claro), sem mais.
Independentemente da pertinência das críticas formuladas, a resposta é inaceitável. Demonstra, uma vez mais, a total incapacidade da ministra para ouvir críticas e para lhes responder de modo fundamentado.
É mais do mesmo, invariavelmente.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Tiro-lhe o chapéu

«Já Platão e Aristóteles se entretiveram a encher pilhas de livros sobre a importância da retórica no espaço público e como ela está na base da própria ideia de democracia. E no entanto, de repente, parece que o pensamento tecnocrático tomou conta de tudo, e que para muita gente respeitável a política deixou de ser "a" política para se transformar numa espécie de gestão, mais ou menos técnica, da coisa pública. Mas que pobreza.»
João Miguel Tavares, Diário de Notícias (17/6/08)

Quino

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Notas soltas sobre uma greve «sui generis»

A propósito da sui generis greve dos patrões da camionagem, algumas notas soltas:

1. Por onde andaram as famosas e mui propaladas determinação e inflexibilidade do primeiro-ministro nos dias da greve dos patrões da camionagem? E a permanente arrogância com que nos mimoseava quase quotidianamente? E a coragem para enfrentar situações difíceis de que era supostamente possuído?
Parece que as exaustivamente propagandeadas força, determinação, inflexibilidade, e outras pretensas qualidades do género, do primeiro-ministro, de repente, foram-se, esvaíram-se, levaram sumiço.
De facto, é fácil ser determinado e inflexível quando se tem a almofada de uma maioria absoluta e se está a dois, a três ou a quatro anos de eleições. Mas quando se está a pouco mais de um ano das ditas, a situação muda radicalmente, e aquilo que era coragem, que era determinação, que era inflexibilidade dá lugar ao discurso delico-doce, onde começam a aparecer, como cogumelos, outros vocábulos, tais como: «diálogo», «tolerância», «compreensão» e, até, «humildade» (os milagres, afinal, existem).
Em definitivo, já não há lugar para dúvidas quanto à veracidade da afirmação que lhe é dirigida: forte com os fracos e fraco com os fortes.

2. Em pleno assalto e bloqueio das estradas portuguesas o ministro da Administração Interna andava alegremente pelo estrangeiro, como se a situação não tivesse nada que ver com ele.

3. Por onde tem andado o ministro das Finanças? Em outras ocasiões, tão pronto a aparecer em frente das câmaras, agora, que os patrões grevistas reclamavam regalias que entravam no bolso dos contribuintes, já não se voluntariou para falar? O assunto da isenção ou da redução de impostos deixou de ser da sua competência?

4. Os partidos da chamada direita, normalmente tão lestos a defender a ordem e a disciplina, quedaram-se, no decurso da crise, em afirmações inócuas ou em afirmações complacentes para com os desordeiros. Os partidos da chamada esquerda, normalmente tão céleres a condenar qualquer greve de patrões por ser inconstitucional, desta vez, apenas comentavam a actuação do governo, mas nada de importante relativamente ao patronato grevista.
Isto é, a substância dos problemas a ninguém importa, o que importa são os jogos de poder e de contra-poder.
Também foi isso que prevaleceu na posição de todos os partidos, sem excepção, em relação ao memorando de entendimento assinado entre o ME e os sindicatos.

5. Assegurar a liberdade de circulação para quem queria circular? Porque é que isso haveria de ser feito?!
Estado de direito? Qu’est-ce que c’est?!
Havia piquetes de greve que apedrejavam quem não obedecia à vontade dos patrões grevistas? Qual é o problema?!
E se os restantes portugueses também se virassem à pedrada aos camionistas? Qual era o problema?! Nenhum! O governo entrava como árbitro e era uma intifada à portuguesa, com certeza.

6. Mas, pensando bem, eu estou a ser injusto, porque a culpa de tudo isto é, de certeza, dos governos anteriores...

domingo, 15 de junho de 2008

Pensamentos de domingo

«Se eu tivesse estado presente no momento da criação poderia ter dado alguns palpites úteis.»
Afonso, O Sábio

«Deus é como a polícia — nunca está presente quando mais precisamos dele.»
Arnold Ljungdal

«A única coisa que impede Deus de mandar um novo dilúvio é que o antigo não fez efeito.»
Nicolas Chamfort

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

sábado, 14 de junho de 2008

Conclusões do Encontro do PROmova

Publicamos as decisões tomadas no Encontro do PROmova, realizado no passado dia 7 de Junho, em Vila Real.

Os educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário identificados com o PROmova - Movimento de Valorização dos Professores, reunidos, em Vila Real, no dia 7 de Junho de 2008, aprovaram a transformação do Movimento numa Associação de Intervenção de âmbito nacional, dotada de um estatuto jurídico próprio, ainda que conservando a sua designação inicial.

Esta decisão visa conferir maior visibilidade e dinâmica às reivindicações dos professores portugueses, injectando-lhe motivação, eficácia e suporte organizacional, de molde a robustecer a capacidade de mobilização e de intervenção dos docentes em defesa de uma escola pública de qualidade, tornando-a reactiva, tanto às medidas legislativas inconsistentes e erradas, como às orientações persecutórias e ofensivas da dignidade profissional dos docentes, enquanto marcas distintivas da postura e das políticas educativas desta equipa ministerial.

Mantendo a fidelidade aos traços identitários que estiveram na emergência espontânea do Movimento, o PROmova não tem vocação para se assumir como Sindicato ou como Associação Profissional, da mesma forma que não se encontra vinculado a qualquer filiação partidária, sindical ou associativa já constituídas, sem prejuízo de poderem ser implementadas estratégias de actuação que sejam convergentes com as de outros movimentos de professores. Deste modo, a associação ao PROmova não divide a classe, pois a mesma não é incompatível com qualquer outro vínculo sindical ou associativo que os docentes possam ter.

Sendo desejável que a adesão de cada professor ao PROmova se possa ancorar numa decisão esclarecida e convicta, disponibilizamos as principais linhas de orientação aprovadas na reunião de 7 de Junho.

Decisões tomadas a nível de organização e de estratégia de actuação:
1. Dotar o Movimento PROmova de personalidade jurídica, sob a forma de associação de intervenção de âmbito nacional.
2. Organizar o PROmova em Núcleos, abertos à participação de professores de todas as escolas/agrupamentos do país e funcionando, preferencialmente, numa adesão e comunicação on-line.
3. Manter a autonomia estratégica do PROmova, ainda que podendo articular algumas formas de actuação com outros movimentos de professores.

Núcleo de razões/reivindicações:
1. Sensibilizar e insistir na renegociação do Estatuto da Carreira Docente, especificamente, a partir da defesa intransigente dos seguintes pressupostos:
a. Rejeição da divisão da classe em categorias artificiais e consequente manifestação de oposição aos concursos de acesso a professores titulares.
b. Recusa da existência de um exame de acesso à profissão, sancionando-se a validação académica e implementando-se uma avaliação de desempenho no final do 1º ano de leccionação, a cargo de uma Comissão de Avaliação Especializada.
2. Não à imposição do modelo de avaliação consubstanciado no Decreto Regulamentar Nº 2/2008.
3.Permitir às escolas/agrupamentos a opção pelo modelo de gestão mais favorável (Director/Conselho Geral ou Conselho Executivo/Assembleia de Escola), conforme parecer fundamentado do Conselho Nacional de Educação.
4. Combater a implementação do sistema de quotas, dada a casuística que decorre da escola/agrupamento a que se pertence e a inaplicabilidade do mecanismo aos contextos de ensino-aprendizagem, mercê da rigidez e do estrangulamento artificial que impõe.
5. Induzir uma revisão urgente do Estatuto do Aluno (Lei Nº 3/2008), contrariando o facilitismo e a perda de autoridade da escola e dos professores que lhe é inerente.
6. Definição de alternativas consistentes e credibilizadas (debatidas com os distintos actores educativos) em termos de ECD, de modelo de avaliação, de modelo de gestão e de estatuto do aluno.

Acções a implementar:
1. Manifestação no arranque do ano lectivo de 2008-2009.
2. Organização de um Seminário sobre políticas educativas, em Setembro de 2008, com a presença de figuras emergentes nos vários partidos políticos.
3. Divulgação de uma carta aberta aos Encarregados de Educação, no início do ano lectivo 2008-2009, explicando a incoerência e o carácter desarticulado das medidas legislativas impostas pela tutela.
4. Apesar da obrigatoriedade legal de implementação das medidas, incentivar os professores e as escolas a verbalizarem a sua discordância. A postura de “cumpridores da lei, mas contrariados e não vergados” fará toda a diferença.
5. Criação de um dístico ou autocolante que dê visibilidade ao descontentamento dos professores.
6. Estudar formas de contestação em convergência com outros movimentos de professores.
Em anexo, disponibilizamos fichas que permitem aos colegas que se identificam com a postura e as reivindicações do PROmova voluntariarem-se para integrar os diferentes Núcleos do Movimento, dinamizarem o Movimento nas suas escolas/agrupamentos e manifestarem uma intenção de adesão ao PROmova (por favor, reportar as adesões para o e-mail profsmovimento@gmail.com ).

O Núcleo de Estratégia do Movimento PROmova,
Octávio Gonçalves, José Aníbal de Carvalho, Manuel Coutinho, Pedro Areias, Delfina Rodrigues, Fátima Barros, Fernando Cristino, Eugénia Necho

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Afinal, quem é que é mesmo, mesmo lésbica?


Os curiosos devem clicar aqui.

Avaliação em debate

Tema: Avaliação de professores: Esta não! Mas qual?

Debate público com:
Olga Pombo (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa)
Paulo Guinote (Professor do 2º CEB, autor do blogue A Educação do meu Umbigo)
João Paulo Videira (Professor, Fenprof)
Manuel António Silva (Instituto de Educação e Psicologia da Universidade do Minho)

21 de Junho, 15,30h, Associação 25 de Abril.
Rua da Misericórdia 95, Lisboa.

Organizado por: Movimento Escola Pública

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Debate Público sobre a Carta Educativa do Concelho de Coimbra

Recebemos da Pro Urbe — Associação Cívica de Coimbra esta informação que passamos a divulgar:

A Pro Urbe — Associação Cívica de Coimbra vai promover um debate intitulado "QUE ESCOLA? Debate Público sobre a Carta Educativa do Concelho de Coimbra", no próximo dia 11 de Junho, quarta-feira, pelas 21h, no Auditório do Instituto da Juventude.
A transferência de turmas das escolas básicas de 1º Ciclo (EB 1) para as escolas básicas de 2º e 3º Ciclos (EB 2/3), já no próximo ano lectivo de 2008-2009, tem sido causa de alarme entre Pais e Encarregados de Educação constituindo um bom motivo a partir do qual se pode e se deve discutir o contexto em que ocorre e lhe dá origem. Trata-se, no fundo, de se perceber, num debate aberto e plural, como e quando se vão concretizar as propostas contidas na Carta Educativa do Concelho de Coimbra.
Para partilhar com a cidade as suas perspectivas sobre esta questão, a Pro Urbe convidou para a mesa o Dr. Carlos Encarnação, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra com o Pelouro da Educação, a Dra. Engrácia Castro, Directora Regional da Educação do Centro, a Dra. Emília Bigotte, representante da Federação Regional das Associações de Pais da Região Centro, a Prof. Doutora Isabel Alarcão e o Prof. Doutor António Rochette.
Na senda das iniciativas que ao longo dos seus 12 anos tem promovido com o objectivo de potenciar "o reforço da participação democrática dos cidadãos no estabelecimento das políticas locais" esta é uma discussão à qual a Pro Urbe não pode deixar de prestar a maior atenção e para a qual convida todos os interessados a participar.

Pro Urbe
Apartado 3105
3001-401 COIMBRA
e-mail: direccao@prourbe.org

Novamente a lei de Gresham

«Portugal era auto-suficiente em azeite. Hoje, importamos 50% do azeite que consumimos. É incrível como chegámos a esta situação.»
Jaime Silva, ministro da Agricultura, entrevista ao Diário de Notícias (8/06/08).

Verdadeiramente, o que é incrível é um político, actual ministro da Agricultura e ex-técnico do mesmo Ministério, vir dizer, agora, e com um desconcertante à-vontade, que é inacreditável termos passado da situação de auto-suficiência para a situação de dependência. Uma acusação destas deveria ser considerada uma acusação gravíssima, porque está a dizer uma de duas coisas: ou existiu manifesta incompetência ou existiu manifesta incúria dos responsáveis que permitiram que se chegasse a este ponto. Mas não, este ministro faz esta afirmação com a maior irresponsabilidade política que se pode imaginar, porque, quando perguntado se com essa afirmação está a fazer um libelo acusatório aos sucessivos governos deste país, responde, com desfaçatez, que «somos todos responsáveis», não se esquecendo de acrescentar que «os técnicos do Ministério da Agricultura talvez sejam os menos responsáveis» (obviamente, ele era, à época, técnico da casa).
Este ministro acusa, depois já não acusa, porque dizer que todos são culpados é o mesmo que dizer ninguém é culpado, e culmina com o despudor de afirmar: eu é que não sou culpado.
Este é o mesmo ministro que, há uns meses, aconselhou os pescadores a requererem a saída de Portugal da União Europeia, se continuassem a protestar contra a redução das quotas de pesca.
Este é o mesmo ministro que, no final da entrevista ao DN, afirma: «[a ministra da] Educação está a fazer um trabalho magnífico, que nunca foi feito neste país».
De tudo isto, torna-se evidente que Jaime Silva acumula irresponsabilidade política, arrogância política e ignorância política. Três em um.
Segundo a lei de Gresham, há já algum tempo invocada, num outro contexto, pelo actual Presidente da República, a má moeda expulsa a boa moeda. É notório que essa lei continua em vigor no nosso país: os maus políticos continuam a dominar a seu bel-prazer.
Todavia estes políticos e esta forma de fazer política têm de ser punidos. Têm de ser punidos social e eleitoralmente.
Ao estado a que isto chegou, pôr termo a esta situação deixou de ser um mero combate político, passou a ser um imperativo cívico.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Vemo-nos por aí ...

"Um homem pode ser destruído, mas não derrotado"
(E. Hemingway, «O Velho e o Mar»)

Na passada semana, no final da última aula de uma turma de 12º ano (nocturno), o delegado de turma, em seu nome e no dos colegas, dirigiu-me algumas palavras que me tocaram profundamente: ... que tinha sido para eles um privilégio ter trabalhado com os três professores que lhes haviam calhado este ano (eu próprio e os outros dois colegas, por sinal também autores neste blogue); ... que era com «dinossauros» como os que haviam sido seus professores que a Escola ainda valia a pena; ... que me estavam particularmente gratos pela consideração que sempre manifestara pelo facto de eles serem trabalhadores-estudantes; ... que não pensasse na reforma antecipada porque eu fazia falta aos que viriam depois deles ...
O delegado de turma em causa é um homem na casa dos cinquenta, como eu. É um homem com uma postura verdadeiramente pedagógica, como, desde o início, os colegas com idade para serem seus filhos reconheceram. Fez, com as suas amáveis e imerecidas palavras com que eu me sentisse de novo no início dos anos oitenta, quando o encantamento se tornara paixão e me fazia sentir que ser professor era uma feliz opção de vida.
Entre o que de mais gratificante o ensino pode dar está, para mim, a possibilidade de estabelecer a melhor das «cumplicidades» com um colectivo, como se, por vezes, o plural se tornasse singular. E foi com essa «cumplicidade» que, em diversas ocasiões (e mais convictamente após a última traição sindical), lhes manifestei a minha esperança em poder passar à reforma antecipada no próximo ano lectivo, que me sentia cada vez mais humilhado, que não aceitaria ser despojado da minha dignidade profissional (como o actual Poder quer), que a escola se tornara um fardo que a vontade carregava com acrescida dificuldade, que tinha mesmo receio de o único espaço onde ainda me sinto professor - a aula - ser também "invadido" por esse estado de alma próprio da derrota, como diria Hemingway.
Sei que alguns alunos da turma visitam este blogue. Porque a lealdade com que sempre nos relacionámos a isso obriga, digo-lhes, sinceramente, que espero encontrá-los "por aí", partilhando o mesmo gosto pelo conhecimento e pela mais sã das convivências. Se a a lei da sobrevivência mo permitir, o que quero é, apenas, terminar a actividade profissional sob o lema que, há muitos anos, aprendi em «O Velho e o Mar»: as razões da minha existência (neste caso profissional) podem ser destruídas, mas não derrotadas.

Branco por fora, preto por dentro

Li, no Diário de Notícias, que um jovem escritor português terá dado, há pouco tempo, uma conferência na Universidade de Maputo. E o modo como se apresentou nessa conferência terá sido assim: «Sou branco por fora, mas preto no interior — sou igual a vocês, sou um rebelde».
No entanto, parece que alguns dos estudantes presentes comentaram que eram pretos, mas que não se sentiam rebeldes. E perguntaram por que razão, para o nosso escritor, preto era sinónimo de rebelde. Parece que o nosso escritor terá ficado bastante atrapalhado e atarantado com a rebeldia dos estudantes, pretos por fora, contra a sua rebeldia, própria, ao que parece, de quem é preto por dentro.
Tenho de confessar a minha inveja de não ter presenciado esta cena. Se há coisa que eu detesto é o oportunismo do politicamente correcto, seja de direita ou seja de esquerda. E se há coisa que me dá prazer é ver esse oportunismo ser desconstruído em público.
Não sei quem é o tal escritor nem me interessa, o que me interessa é o que este tipo de comportamento representa e o estereótipo que simboliza.
Há quem pense que um intelectual que não seja tido como um rebelde não é um verdadeiro intelectual. Há quem pense que ser rebelde é um bem em si mesmo. Há quem pense que o homem branco, por ser branco, por ter nascido branco, estará eternamente em dívida para com o homem preto. Há quem pense que o homem branco, por ser branco, é necessariamente mau, e que o homem preto, por ser preto, é necessariamente bom (ou rebelde). E por aí fora...

Mas estes tiques, e outros do género, são antigos. Recordo-me das inúmeras vezes que ouvi um famoso poeta e compositor brasileiro apresentar-se nos seus espectáculos deste modo: «O meu nome é Vinícius de Moraes, o branco mais preto do Brasil.»
Pois...

domingo, 8 de junho de 2008

O cânon dos vendidos (música de encantar)

Fiquei hoje perplexo (isto é, não fiquei perplexo) com a notícia vinda nos jornais de que os “sindicalistas” (todos eles) defendem que haja uma legislação que obrigue os não-sindicalizados a pagar-lhes uma taxa, pois estariam a “beneficiar” da “luta” dessa gente. Ora vejamos.

1 – É óbvio que no nosso país não há sindicatos. Há grupos de militantes do PS e do PSD, que se juntaram na UGT, para aprovar as medidas anti-populares do “Centrão”. Não há proposta do actual governo que a UGT não aprove, o que é paradigmático.
E há militantes do PCP, que, com meia dúzia de PSs de “esquerda” e “independentes”, se juntam na CGTP, para fazerem manifestações de seis em seis meses, “exigindo uma política mais social por parte do governo”. Isto é, que aprovam, de facto, as medidas do governo. (Veja-se a posição dos sindicatos dos motoristas sobre a paralisação dos camiões)
Se dúvidas houvesse, mais uma vez recordo o que recentemente aconteceu com os professores, com mais de cem mil docentes na rua, mobilizados fora dos sindicatos, que, depois dos apelos do ministro dos assuntos (anti-) sociais ao secretário geral da CGTP, foram vergonhosamente traídos pela fenprof. Isto é, a cúpula dos sindicatos ordena que se chegue a um acordo (de traição), que os professores haviam recusado em massa.
(Mas, a pergunta é: de onde vieram realmente as ordens?)

2 – Como a cegueira pode dar, mas passa, os trabalhadores deste país têm-se dessindicalizado num número cada vez mais elevado, cortando o sustento a essas organizações, que para eles deixaram de ter qualquer utilidade. Pagar para ser traído?

3 – Ora, a dessindicalização, tal como a abstenção ou o voto nulo, é, na generalidade dos casos, um acto político. Se eu recentemente cortei as minhas relações com o SPGL foi porque considerei que tal organização não só não me defendeu, como, quando as condições eram propícias a que eu ganhasse uma decisiva batalha, me atacou, traindo-me.
Vou sustentar quem me traiu? Porquê? Porque vou usufruir de uma derrota? Porque vou ficar pior do que estava antes?

4 – É óbvio que nem tudo é mau, pois esta posição dos “sindicalistas” mostra que este sindicalismo de pacotilha está podre, moribundo e estrebucha, e que, como qualquer patrão, quer sugar-nos mais uns cobres para poder subsistir.

5 – Só que os tempos são contrários aos acordos de vendidos, e aquilo a que iremos assistir, mais dia menos dia, é ao aparecimentos de Sindicatos realmente representativos e realmente defensores dos interesses dos trabalhadores.
E a esses iremos pagar.
Voluntariamente.

Filipe Melo Trio

sábado, 7 de junho de 2008

Pensamentos de fim-de-semana

«O peixe é que está bem - bebe quando quer.»
Provérbio dinamarquês

«Eu desconfio dos camelos. E, além disso, de todos aqueles que conseguem aguentar uma semana sem beber.»
Joe E. Lewis

Eu bebo para tornar as pessoas mais interessantes.
George Jean Nathan

In José Manuel Veiga, Manual para Cínicos.

Desemprego

O Instituto Nacional de Estatística informou que, entre 2002 e 2007, o desemprego, em Portugal, subiu 65%.
É curioso que, desta vez, o primeiro-ministro não tenha reclamado para si mais este momento histórico.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Queixas de professores

Por solicitação da colega Ana Henriques, do Movimento para a Mobilização e Unidade dos Professores - MUP, divulgamos a criação de um novo blogue por parte deste movimento de professores:

«A partir de hoje, passamos a disponibilizar um serviço de recolha de queixas dos colegas professores e educadores, relativas ao seu desempenho profissional, através do e-mail profqueixa@gmail.com. Poderão também ser apresentadas queixas de "pressões", atropelos, ilegalidades, falta de apoio jurídico dos sindicatos e outras.
Sempre que assim for solicitado, as queixas serão aqui publicadas neste blog, complementar do MUP - Movimento para a Mobilização e Unidade dos Professores, podendo-se, caso vontade expressa, publicá-las de forma anónima.»
O endereço electrónico do blogue é: http://queixasdeprofessores.blogspot.com

Telenovelas e futebol

O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, disse:
«O povo português não está habituado a ler, nem a Bíblia nem outros livros; vive de telenovelas e de futebol.»
Diário de Notícias (6/6/08)

Como é óbvio

1. Na política, como na vida, pior que a arrogância é a falsa humildade. Pior que a presunção é a falsa modéstia. Pior que a grosseria é a falsa delicadeza. Pior que a indiferença é a falsa sensibilidade.

2. A propósito da manifestação de 200 mil portugueses contra a proposta do governo de revisão do Código do Trabalho, que ontem ocorreu entre o Marquês de Pombal e a Praça dos Restauradores, em Lisboa, o primeiro-ministro disse: «O que tenho a dizer aos manifestantes é que, humildemente, não concordo com eles». Eu volto a escrever o que o primeiro-ministro disse: «O que tenho a dizer aos manifestantes é que, humildemente, não concordo com eles».

3. Como é óbvio, não existe qualquer relação entre o ponto 1 e o ponto 2.

4. Como é óbvio, não existe qualquer relação entre o ponto 2 e o aroma a eleições que paira no ar.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Arrojos

Daniel Sampaio parece que declarou àquilo que dizem que é uma espécie de jornal, isto é, ao Correio da Manhã, o seguinte: «Concebo um sistema de ensino sem Ministério da Educação.» É, sem dúvida, uma concepção arrojada, por parte daquele psiquiatra.
Mas penso, sinceramente, que ainda é possível ser-se mais arrojado: conceber um sistema de ensino com o Ministério da Educação que temos.

Mário Claúdio ao DN

Algumas passagens da entrevista do escritor Mário Claúdio ao Diário de Notícias:

«[...] Não tenciono ser um fiel seguidor de qualquer acordo [ortográfico]. Há coisas mais importantes em torno do português do que as ortográficas. Desde logo as de carácter sintáctico. A nossa língua está a ser abastardada. As questões sintácticas têm a ver com o raciocínio, são de carácter mental. As outras têm a ver com a cartilha. Quem escreve mal pensa mal e o inverso também é verdadeiro. Escrever mal e pensar mal são a mesma coisa. E escrever mal não é escrever dança com 's'. É essa ganga do mau pensamento que associo hoje à escrita: gente que pensa mal e que escreve mal.»

«Isso [toda a gente escreve livros] tem a ver com a inconsciência, ignorância, arrogância. Não me preocupo que haja muitos livros publicados. São sobretudo senhoras que não têm muito que fazer, ou se têm muito que fazer gostam muito de escrever. Ouvi uma vez uma dizer que de manhã ficava felicíssima quando se sentava à secretária e escrevia os seus textos e era tudo muito cor-de-rosa. Repudio esse universo. Escrever não é nada disso.»

«Agora o despudor é completo [...] pessoas que fazem programas de pura diversão, talk-shows e que só porque têm um nome publicam um livro e intitulam-se logo de escritores.»

«Não sou de puritanismos, mas vejo-me como uma antiga mãe de família se veria num prostíbulo. É um pouco isso.»
Diário de Notícias (4/6/08)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O vídeo da polémica

Arte da violência? Violência da arte? O vídeo da música «Stress», do duo francês Justice, originou uma acesa polémica em França. O vídeo, realizado por Romain Gravas, já foi considerado, por alguns, uma obra de arte e, por outros, um elogio da violência. Vale a pena ver.

Nota:
Não sabemos se provisória ou definitivamente, este vídeo deixou de estar disponível no YouTube, mas continua acessível no sítio do jornal Público. Para visioná-lo basta clicar aqui. (6/6/08)

Estereótipo vs estereótipo

«A Associação de Solidariedade Espanha-Israel considera que os media espanhóis transmitem uma ideia dos israelitas que passa apenas pelo ódio aos palestinianos. Em resposta, criou uma campanha que se propõe a combater estereótipos com mais estereótipos.»
Sítio do Público.

Para visionar o vídeo, clicar na ligação:
http://www.publico.clix.pt/videos/?v=20080603164238&z=1

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Cientistas ressuscitam ADN do Tigre-da-Tasmânia

«ADN de uma espécie extinta foi reactivado em laboratório pela primeira vez. Os genes de um tigre-da-tasmânia, também conhecido por lobo-da-tasmânia, foram introduzidos num embrião de rato por uma equipa de cientistas australianos e americanos. O ADN foi recolhido de um espécime com 100 anos de idade, conservado em álcool num museu australiano.»
Sítio da TSF.

Para visionar o vídeo, clicar na ligação:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=951278

domingo, 1 de junho de 2008

Pensamentos profundos

«Ainda não descobri os meus trunfos mais sexy. Por isso, vou jogando com todos.»
Catherine Zeta-Jones, actriz, Flash.

«Nunca faria uma cena de sexo. Em televisão estas cenas são completamente desnecessárias. Pode dar-se a entender sem ser explícito.»
Diana Chaves, actriz, GQ.

«Nunca falo de sexo com as minhas amigas.»
Sarah Jessica Parker, actriz, Yo Dona.