quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Por uma questão de dignidade

A 15 de Novembro lá estarei. A 8 de Novembro, provavelmente não, porque já não é possível conviver com quem serve o Poder ... em nome daqueles a quem o Poder oprime. Até lá, continuarei a dizer não a tudo o que considero ofensivo da minha dignidade profissional. Porque o estado a que isto chegou é, antes de mais, uma questão de dignidade (ou de honra, se se preferir).

A promiscuidade entre Sindicalismo e Poder é, da há largos anos a esta parte, uma realidade indesmentível. Quem, alguma vez, teve acesso aos meandros mais restritos dessa convivência entre Sindicalismo e Poder - e preza antes de mais a sua integridade intelectual e não abdica dos mais elementares imperativos éticos, não pode deixar de reconhecer que essa convivência levou ao fim do sindicalismo como espaço autónomo e independente, como expressão dos interesses de quem vive de trabalho assalariado. Basta lembrar as muitas "personalidades" que colaboraram com os sindicatos, ou integraram mesmo os quadros dirigentes sindicais, e vieram a ocupar os mais diversos cargos políticos, para perceber que o sindicalismo actual tem muito pouco, ou nada, a ver com a sua natureza original.

Pela minha formação académica e porque sou professor de História, foi-me particularmente difícil deixar de ser sindicalizado. Mais difícil é ainda aceitar que os sindicatos fazem, no contexto actual, parte do problema e não da sua solução. E o problema já não é do domínio da reivindicação tradicional de melhores condições de trabalho, de salário, etc, etc. O problema é do foro ético, de tudo o que há de mais íntimo na relação da pessoa com a profissão.

O sindicalismo está refém do Poder, desde logo porque os seus dirigentes vivem na dependência directa das dispensas de serviço docente concedidas pelo ME. De trabalhadores que representavam os seus pares nas relações laborais, os dirigentes sindicais transformaram-se em verdadeiros profissionais do sindicalismo, como se tal actividade devesse ser, em si mesma, uma profissão. Mas é. E é a defesa dessa "profissão" que, primeiro que tudo, os move. Vou ser ainda mais claro: o profissionalismo de tais dirigentes resume-se a um saber de experiência feito, não no domínio da actividade exercida por aqueles a quem é suposto representarem, mas no domínio das práticas indispensáveis à defesa dos seus interesses (verdadeiramente corporativos, diga-se).

Se estivessem nas escolas, a sentir na pele a monstruosa política que está a levar muitos dos melhores professores ao desespero, os Nogueiras, os Silvas e outros teriam certamente outros discursos, ou, se reunissem as condições para tal, estariam a pedir a reforma antecipada, engrossando o caudal dos muitos que, com lágrimas de raiva à mistura e com o vencimento diminuído, viram na reforma a única saída deste beco escuro em que nos meteram.

Lamento profundamente concluir o seguinte: qualquer saída que passe pela liderança das actuais direcções sindicais será para um beco ainda mais fechado.

Ainda tenho uma ténua esperança na força da vontade colectiva. Por isso, espero que a manifestação de dia 15 se mantenha e não haja medo em separar as águas. Antes um ribeiro de água pura do que um rio cada vez mais poluído ... .