Acabei de ler, na revista Sábado de hoje, uma reportagem sobre a avaliação de desempenho dos professores no ensino privado. Ainda que a partir de uma simples abordagem jornalística de uma situação não se possa obter um conhecimento fidedigno e rigoroso da mesma, é seguro concluir sobre as enormes diferenças entre o modelo de avaliação criado pela ministra da Educação e o modelo que vigora nas escolas privadas. Neste a simplificação e a flexibilidade parecem ser a nota dominante, no outro, no modelo da ministra, é o gigantismo, a burocratização, a inoperacionalidade e a incompetência avaliativa.
É curioso verificar que o governo, a propósito de tudo e de nada, nomeadamente para justificar os cortes nos direitos sociais de vários sectores do Estado, tenha dito e redito que era preciso aproximar o sector público do sector privado, mas no caso da avaliação de desempenho dos professores já não tenha seguido o mesmo critério, não tenha procurado essa aproximação!
Não faço juízos de valor sobre o sistema de avaliação no ensino privado porque não o conheço em pormenor, limito-me a verificar mais uma (de um rol já imenso) objectiva incongruência deste governo e, no caso particular, da ministra da Educação.
Recordo-me, aliás, de ter ouvido, no debate do programa televisivo Prós e Contras, um director de um colégio privado afirmar que o modelo de avaliação estava a ser testado há vários meses para, após esse período experimental, serem retiradas conclusões e tomadas decisões sobre a versão final a aplicar.
Ao que parece, no privado, há simplicidade, há flexibilidade no modelo, há período experimental e houve acordo entre a Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo e alguns sindicatos. No público, não há simplicidade, não há flexibilidade, não há período experimental, não há acordo, há confrontação e arrogância desmedida.
E assim se faz uma sui generis aproximação do público ao privado: quando politicamente é oportuno, fala-se nessa aproximação; quando o objectivo é apenas trabalhar para a estatística e dar a aparência de que se governa, o objectivo da aproximação com o privado é omitido.
Coerência e pudor são evidentes carências deste governo.