quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Trechos - Hervé Juvin

«O número substitui o saber, o número mata o gosto e a aristocracia do julgamento. O exemplo é dado em Google-moi, de Barbara Cassin: a lógica invocada sob os gloriosos auspícios de "cultura e democracia" é uma lógica puramente quantitativa em que o número de cliques dita a qualidade, tanto da amizade como das obras. É a lei da Internet, os motores de busca como enciclopédias; o número dita a verdade, a quantidade assegura o belo, o bom e o verdadeiro. Não estamos longe do realismo socialista soviético: as massas nunca estão erradas, o artista só faz o que é belo e bom quando educa as massas. Chegaremos brevemente ao ponto em que, nos museus, se afixará o preço estimado do quadro para se situar o valor. De resto, nas grandes fundações americanas, publica-se o valor de compra do quadro. Homenagem aos doadores! A arte vale o seu preço. É um primeiro passo, que será seguido. Nas universidades americanas, os grandes e antigos exemplos são-no segundo a sua contribuição financeira. Aquele que paga tem sempre razão. Chegaremos brevemente ao ponto em que, nas universidades, se dirá quanto ganha um professor para saber se vale a pena ouvi-lo ou se se pode satisfazer ao ler a fotocópia. À força de saber bem fazer, mas não fazer bem, é necessário o quantitativo para apreciar o qualitativo. À organista que toca A Arte da Fuga, pergunta-se: "quantos tubos?", como Estaline perguntou ao papa: "quantas divisões?".»
Hervé Juvin
Gilles Lipovetsky, Hervé Juvin, O Ocidente Mundializado, Edições 70.