quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Às quartas

UM LEOPARDO VIVE NUMA ÁRVORE MUU

Um leopardo vive numa árvore Muu
Vigiando a minha casa
Os meus cordeiros nasceram malhados
As minhas esposas cingem as vestes
E afastam-se —
Temendo uma descendência malhada.
Banham-se quando a lua vai alta
Doce e fecunda
Salpicam os seus mamilos com água fria do regato da montanha
Deixam cair as camisas e dizem obscenidades.
Eu estou cercado
Terei de cortar a árvore Muu
Eu estou cercado
Eu caminho hirto
De mãos na cintura.
Um leopardo vive junto da minha casa.
Vigiando as minhas mulheres
Chamei-lhe antepassado, o-do-mesmo-útero
Ele espreita-me pela fenda dos olhos
De cabeça erguida
A minha espada enferrujou na bainha.
As minhas esposas comprimem os lábios
Quando as corujas piam para acasalar.
Estou cercado
Elas acartam água fria da montanha
Elas esmagam a cana-de-açúcar
Mas recusam-se a tocar no meu corno de cerveja.
As minhas sebes estão quebradas
As minhas sacas de remédios rasgadas
O pêlo das minhas virilhas chamuscado
O poste junto ao portão caiu
As minhas mulheres estão ariscas
O leopardo curva-se sobre a minha casa
Come os meus cordeiros
Ressuscitando-se.

Jonatan Kariara
(Trad.: José Alberto Oliveira)